Metade das famílias mais pobres do programa habitacional no brasil está inadimplente

Metade das famílias mais pobres do programa Casa Verde e Amarela está inadimplente

São quase 600 mil famílias com parcelas atrasadas do programa habitacional. A informação foi obtida por meio da Lei de Acesso à Informação.

Por Jornal Nacional

Metade das famílias mais pobres do programa Casa Verde e Amarela está inadimplente

Metade das famílias mais pobres com financiamentos habitacionais do programa Casa Verde e Amarela está com parcelas atrasadas.

O jardineiro Jorge Rodrigues Moraes não sabe nem quantos meses está devendo, mas sempre que arruma um dinheiro paga a prestação que está vencida há mais tempo.

“A gente puxa de trás para frente. A gente vai lá no fundo do baú, pega aquela atrasadona lá e manda para cá”, conta.

Jorge é da faixa 1 do programa Casa Verde e Amarela, a mais baixa, voltada para as famílias com renda de até R$ 2 mil por mês. E, assim como ele, milhares de brasileiros estão na mesma situação.

Metade dos contratos da faixa 1 do Casa Verde e Amarela estava inadimplente no fim do ano passado. São quase 600 mil famílias com parcelas atrasadas do programa habitacional. A informação foi obtida por meio da Lei de Acesso à Informação.

O programa Casa Verde e Amarela foi criado em 2020 pelo governo Jair Bolsonaro para substituir o programa Minha Casa Minha Vida. E a inadimplência entre as famílias de renda mais baixa vem pelo menos desde 2014, quando atingiu 25,5% dos contratos.

Há dois anos, os atrasos entre as famílias mais pobres estavam em 44,4% e esse número continuou subindo. No final do ano passado, a inadimplência chegou à metade dos contratos.

A diarista Maria do Socorro Lopes não paga as prestações há dois anos e está devendo mais de R$ 1,6 mil. Ela foi na Caixa e não conseguiu nem começar uma negociação.

“O rapaz só fez puxar o valor que eu estava devendo e não falou mais nada. Ele falou que eu tinha que pagar aquele valor e pronto. Eu fico sem dormir, a gente não dorme de noite. Como vai dormir devendo? Não dorme. Fica preocupada, com medo de perder a casa”, lamenta.

A economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV/Ibre, diz que o governo deveria renegociar caso a caso, até porque o objetivo do programa é atender a quem não consegue comprar a casa própria.

“A renegociação tem que ser realmente caso a caso. Qual a situação da família? O que aconteceu? O que mudou em relação ao início da contratação? Alguém perdeu a renda? Essa faixa é a mais vulnerável. A gente está falando de um programa habitacional, não estamos falando de regra de mercado. Porque justamente essas famílias não têm condições de acessar o mercado pela regra. Então, precisa essa condição de vulnerabilidade ser considerada”, afirma.

A Caixa Econômica Federal informou que durante a pandemia não retomou nenhum imóvel por falta de pagamento do público da faixa 1. E o Ministério do Desenvolvimento Regional disse que os impactos econômicos da pandemia da inadimplência, que está criando mecanismos legais para renegociação das dívidas e que levará em consideração a renda da família.

Enquanto o governo não define as regras da renegociação, beneficiários como a diarista Patrícia Almeida continuam lutando todo mês para pagar as parcelas.

“Estou desempregada. Quem está me ajudando é a minha filha. Então, às vezes deixo de comprar alguma coisa para dentro de casa para deixar as prestações em dia. Eu faço de tudo para poder manter minhas prestações em dia”, garante.

Fonte: G1