Até que Enfim! GDF vai Se mudar para o Centrad em Taguatinga!

A perspectiva é de que o Centrad receba, a princípio, nove órgãos públicos: Governadoria, Vice-Governadoria, Casa Civil e as Secretarias de Fazenda, Gestão e Planejamento; de Saúde; de Segurança; de Educação; de Desenvolvimento Econômico e Atendimento à Comunidade; e a Casa Militar.

Após Quatro Anos, Centrad Deve Ser Finalmente Ocupado Pelo GDF

Proposta das empresas que formam o consórcio responsável pelo Centro Administrativo de Brasília, em Taguatinga, e dos financiadores da empreitada prevê o uso do espaço pelo GDF até que a compra seja acertada. Governo local deve aceitar o acordo


AV Ana Viriato HM Helena Mader
A expectativa é de que o Centro Administrativo de Brasília (Centrad) receba 13 mil dos 130 mil servidores do Executivo local e nove órgãos públicos: indefinição passa de quatro anos(foto: Ed Alves/CB/D.A Press)
Após mais de quatro anos em desuso, um dos maiores elefantes brancos da capital pode abrir as portas em breve. O consórcio responsável pelo Centro Administrativo de Brasília (Centrad), formado por Odebrecht e Via Engenharia, e os bancos financiadores — Santander e Caixa Econômica Federal — propuseram ao GDF a ocupação imediata do imóvel, na Avenida Elmo Serejo, em Taguatinga, até que sejam finalizadas as tratativas sobre a compra pelo Palácio do Buriti. Conforme o acerto, nesse período, o Executivo local não pagaria pelo uso do espaço. A sugestão, entregue na última sexta-feira, é vista com bons olhos pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), que tem pressa em definir o destino do local.

O complexo de 182 mil metros quadrados, construído por meio de uma parceria público-privada (PPP) para abrigar o funcionalismo, tem capacidade para receber 13 mil dos 130 mil servidores locais. Inaugurado no último dia de gestão de Agnelo Queiroz (PT) sem móveis, telefone ou internet, o centro nunca chegou a funcionar. Em fevereiro de 2015, a Justiça cassou o habite-se, concedido pela Administração Regional de Taguatinga, por causa de uma série de irregularidades, como a ausência de estudos de impacto de trânsito. O ex-governador foi condenado por improbidade administrativa devido às deficiências da documentação. No último dia 6, a 1ª Turma Cível rejeitou embargos de declaração apresentados pela defesa de Agnelo no processo (leia Memória).
Apesar do imbróglio, Ibaneis afirmou que a negociação sobre a ocupação “está na fase final”. “Nenhum dos laudos produzidos até agora é definitivo. Portanto, é mais tranquilo para todos que seja feita a entrega do Centrad enquanto discutimos valores e formas de pagamento”, explicou. O governador adiantou que deve submeter a sugestão à análise da Procuradoria-Geral do DF e da Terracap, dona do espaço onde está o Centrad. “Mas a perspectiva é positiva. Temos pressa em ocupá-lo”, completou.
Segundo o emedebista, nem mesmo os mais de 60 processos judiciais e administrativos — entre eles, o que acarretou a anulação do habite-se do imóvel — serão um empecilho à transferência de parte da administração pública. “Algumas partes do complexo foram vistoriadas e, por estarem prontas para uso, podem receber o habite-se. O processo será rápido, mesmo porque os órgãos responsáveis são submetidos ao Buriti”, detalhou.
Em nota, a concessionária declarou que “segue em tratativas no intuito de facilitar e viabilizar a ocupação do Centrad e reitera que qualquer solução financeira ou relativa à ocupação do empreendimento deverá ser definida com a participação da concessionária, do GDF e dos bancos”. A Caixa Econômica, financiadora majoritária do empreendimento, explicou que “não fornece informações a respeito de operações de crédito específicas”
A aproximação do acerto ocorre dias depois de uma ofensiva do governo. Em reunião com o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), na última terça-feira, o emedebista levantou a possibilidade da publicação de um decreto de intervenção, caso não houvesse consenso entre todas as partes até 28 de fevereiro. No encontro, Ibaneis declarou que o espaço seria ocupado até 31 de março, “seja na base da negociação, seja na base da força”.

Caminhos opostos

No fim do ano passado, um grupo de trabalho criado pelo ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para analisar a situação jurídica do Centrad recomendou, em relatório, a decretação da nulidade do contrato de concessão firmado com o consórcio responsável pela obra. Ainda na gestão passada, o GDF chegou a notificar as empresas, que pediram 60 dias para se manifestar no processo administrativo.
O governador Ibaneis, entretanto, mudou os rumos da negociação e, desde a transição, anunciou o interesse em comprar a estrutura a partir de uma negociação a respeito do preço — o acerto precisa ser chancelado por órgãos de controle e deve basear-se em um laudo da Caixa. Em novembro, inclusive, representantes escolhidos pelo emedebista vistoriaram o local para verificar as condições de uso.
Pelo modelo da PPP, a partir do momento em que o Centrad entrasse em funcionamento, o governo teria de começar a pagar as parcelas mensais de cerca de R$ 23 milhões por 22 anos. Mas, caso seja firmado acordo entre o governo Ibaneis, a Caixa Econômica e as empresas, o Executivo assume o prédio enquanto negocia o valor final para a compra do espaço.

Reformas e pendências

Para a efetiva transferência dos servidores, há muito a ser feito. O governo terá de lançar licitação para a compra do mobiliário comum, como mesas, cadeiras, divisórias e armários. Para custear as aquisições, o Buriti estima R$ 300 milhões em gastos. Em relação a itens de tecnologia da informação, o GDF informou que “há um estudo em andamento para verificar se é melhor adquiri-los por leasing ou mesmo aluguel, pois é preciso constante melhoria”.
Além disso, a construção do complexo está 97% concluída. Conforme o Executivo local, “ainda não há como saber quais as áreas que passarão por obras”. “O tempo decorrido da construção até hoje pode ter deteriorado o prédio mais do que imaginamos. Será preciso fazer um estudo rápido para que essas pequenas obras sejam feitas”, diz nota enviada pela assessoria de imprensa, que prevê o investimento de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões em reformas.

Regras

O Consórcio paga pelos serviços de guarda e zeladoria do empreendimento desde a entrega da primeira etapa, ocorrida em junho de 2014. As centrais elétricas e de ar-condicionado estão em funcionamento, como previsto nas regras da PPP. A perspectiva é de que o Centrad receba, a princípio, nove órgãos públicos: Governadoria, Vice-Governadoria, Casa Civil e as Secretarias de Fazenda, Gestão e Planejamento; de Saúde; de Segurança; de Educação; de Desenvolvimento Econômico e Atendimento à Comunidade; e a Casa Militar.

Memória

Operações e escândalo
O Centrad virou alvo de um grande escândalo a partir do acordo de leniência da construtora Andrade Gutierrez, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação Lava-Jato. De acordo com diretores da empreiteira, houve uma divisão das maiores obras de Brasília entre as principais construtoras do país para evitar disputas nas licitações. Entre as negociações, estariam, ainda, o Estádio Nacional Mané Garrincha, o BRT Sul e o Setor Habitacional Jardins Mangueiral. Essas obras também estiveram no centro da Operação Panatenaico, deflagrada em maio de 2017.
Fonte: Correio Braziliense