Moro sobre “dama do tráfico”: Crime confortável com o governo

Senador deu declarações ao Estadão

O senador e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (União Brasil-PR), disse considerar muito estranho que pessoas ligadas a organizações criminosas se sintam confortáveis em visitar o atual Ministério da Justiça. O Estadão revelou, nesta segunda-feira (13), que uma integrante do Comando Vermelho teve reuniões em Brasília com quatro assessores do ministro Flávio Dino.

– Gera alguma preocupação pessoas ligadas a organizações criminosas se sentirem à vontade para fazer visitas ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Normalmente isso não é usual – disse Moro, em conversa com o Estadão.

E acrescentou:

– O Ministério da Justiça do governo do PT acaba ficando vulnerável a esse tipo de visitação pois há uma expectativa de que os pleitos sejam atendidos. Isso é bastante ruim, por isso é importante que as pautas das reuniões sejam reveladas e se foi realizado algo de concreto a partir dos encontros.

Conhecida como a dama do tráfico amazonense, Luciane Barbosa Farias esteve no Ministério da Justiça em março e maio para encontros com o secretário Nacional de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz; Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen); Paula Cristina da Silva Godoy, da Ouvidoria Nacional de Serviços Penais (Onasp); e Sandro Abel Sousa Barradas, diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen.

O nome de Luciane Barbosa foi omitido das agendas oficiais das autoridades. Ela é esposa do traficante Tio Patinhas e foi condenada a 10 anos de prisão por associação com o tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Nas reuniões, ela se apresenta como presidente de uma ONG que atua com direitos humanos de presos.

Sergio Moro pontuou ainda que, quando estava ministro da Justiça, a Pasta costumava fazer o controle de quem ingressava no prédio. Para ele, o descuido do atual governo que reflete a falta de comprometimento com a segurança pública.

– É só pedir a lista das pessoas que comparecerão e fazer um background, uma verificação. Não devem ter feito, imagino, e isso foi um descuido. Mas o fato mais significativo é: por que pessoas ligadas a esses grupos se sentem confortáveis em fazer essas visitas? Por que não tem um cuidado maior em fazer esse crivo sobre quem comparece nas reuniões? – questionou o ex-ministro da Justiça.

Segundo ele, a pasta deve explicações.

– O ministério deve explicações mais precisas a respeito do que houve e precisa rever completamente os seus procedimentos, além de adotar uma política pública rigorosa contra as organizações criminosas, o que ainda não fez – comentou.

Nas redes sociais, Moro usou tom ainda mais ácido ao comentar o caso.

– Na minha época do Ministério da Justiça, até recebíamos criminosos em Brasília, mas eles iam direto para o presídio federal – ironizou.

*AE

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