“Não é o DiCaprio que vai salvar a Amazônia”, diz ambientalista

Valcléia Solidade disse que houve secas, mas nenhuma como esta

A ambientalista Valcléia Solidade alertou, em entrevista à Agência EFE, para a situação “crítica” das comunidades rurais que vivem na Amazônia brasileira, devido à seca histórica na região. Ela cobra investimento público para evitar a emigração dos seus habitantes.

– Tivemos secas em 2010 e 2014, mas as comunidades nunca ficaram totalmente isoladas como agora – afirmou.

Valcléia é uma dos responsáveis pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), que, na última quinta-feira (19), participou na primeira edição do Fórum Latino-Americano de Economia Verde, organizado pela EFE em São Paulo.

De acordo com Solidade, que tem 28 anos de experiência em projetos na área, cerca de 75% das quase 600 comunidades atendidas pela FAS, uma das maiores ONGs da região, têm problemas de comunicação devido à diminuição da vazão dos rios.

Valcléia Solidade Foto: EFE/ Sebastiao Moreira

As viagens para muitas aldeias se tornaram praticamente impossíveis, com o rio Negro (um dos principais afluentes do Amazonas) no seu nível mais baixo desde que se iniciaram os registros em 1902, como resultado de uma combinação de temperaturas elevadas e baixa pluviosidade associada ao fenômeno El Niño.

– As comunidades mais afastadas não conseguem obter nada: alimentos, água, combustível para mover os barcos ou colocar o gerador de energia. As salas de aula também estão fechadas – afirma.

Além disso, a morte em massa de peixes, incluindo mais de 150 golfinhos de duas espécies ameaçadas de extinção, piorou a qualidade da água em uma região que já sofre de falta de água potável.

– Não há água nem para tomar banho. Em algumas partes do rio, a água tornou-se insalubre e as pessoas começaram a ter problemas de comichão na pele – alertou.

O governo brasileiro anunciou apoio para drenar os rios e facilitar a navegação, além de enviar ajuda humanitária às comunidades afetadas. No entanto, Solidade disse que os anúncios são “ações paliativas que não vão resolver fundamentalmente a situação” e pede que se vá além, com investimentos de longo prazo em saneamento básico e capital humano.

Se isso não for feito, é “provável” que os habitantes das comunidades atualmente isoladas pela seca acabem migrando para as cidades no futuro “para não voltarem a viver esta experiência”, advertiu.

No final da entrevista, a ambientalista disse que não é o ator e ativista Leonardo DiCaprio que irá salvar a Amazônia.

– Não é o Leonardo DiCaprio que vai salvar a Amazônia. Somos nós, brasileiros, que temos que salvá-la. Como sociedade, temos que exigir que nossos representantes tomem atitudes para resolver o problema – frisou Solidade.