Criticado por fala sobre Venezuela, Lula deve receber Maduro no Brasil novamente neste ano

Líder do regime chavista foi convidado para cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica junto de outros presidentes

Alvo de críticas por voltar a relativizar a democracia na Venezuela em uma entrevista na última quarta-feira (28), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode receber Nicolás Maduro pela segunda vez no Brasil neste ano. O líder venezuelano foi convidado para participar de uma cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em Belém, junto dos presidentes dos outros países que integram a entidade.
Além da Venezuela e do Brasil, fazem parte da entidade Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname. Fontes do Itamaraty relataram à equipe do blog que a expectativa do governo brasileiro é de que todos os chefes de Estado compareçam à cúpula da OTCA, marcada para agosto

Na última quinta-feira (30), ao ser questionado durante uma entrevista à Rádio Gaúcha sobre o autoritarismo no país vizinho, Lula respondeu que “o conceito de democracia é relativo” e alegou que a Venezuela “tem mais eleições do que o Brasil”. Ao ser novamente questionado pelo repórter sobre o tema, o presidente foi além.
“Quem quiser derrotar o Maduro, derrote nas próximas eleições e assuma o poder”, disparou Lula, ignorando os indícios de fraude eleitoral e perseguição sistemática à oposição pelo regime de Maduro.

Embora integrantes do Itamaraty afirmem que ainda não há uma lista oficial de confirmações, interlocutores da oposição venezuelana com quem a equipe da coluna conversou que dificilmente Maduro perderá a oportunidade de viajar ao Brasil para disfarçar seu isolamento internacional. O líder chavista esteve impedido de entrar no país durante quase todo o governo Bolsonaro.


No fim de maio, Maduro esteve em Brasília para um retiro de chefes de Estado da América do Sul convocado por Lula. A visita foi marcada por controvérsia pelas declarações do petista de que a Venezuela era “vítima” de uma “narrativa de antidemocracia e autoritarismo”.


A fala foi duramente criticada pelos presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e do Chile, Gabriel Boric, que também participaram da cúpula. Além disso, a pompa da recepção brasileira ao dirigente venezuelano, que não se repetiu com os demais líderes, também pegou mal dentro e fora do Brasil.
No Congresso, como publicamos no início do mês, a repercussão também foi negativa e ajudou a azedar o clima entre os partidos de centro e o governo durante a votação da medida provisória da Esplanada dos Ministérios. A cúpula amazônica acontecerá em meio à discussão sobre reforma tributária e outras agendas prioritárias do governo.
A OTCA, fundada em 1995, teve sua última reunião sediada na Colômbia, em 2019. Na época, a Venezuela não participou da cúpula porque a presidência do país ainda era disputada entre o chavismo e o então líder da oposição, Juan Guaidó, que se autoproclamava presidente interino até janeiro deste ano.
Assim como na reunião de presidentes sul-americanos, o governo Lula sustentará que Maduro foi convidado como chefe de Estado de uma nação integrante da OTCA. Resta saber se, caso saia do evento com uma agenda positiva para a Amazônia na condição de anfitrião, o presidente arriscará ofuscar a pauta do evento com sua defesa intransigente da autocracia chavista. 

Fonte: O Globo