Após visita, senadores dizem que Torres “chora o tempo todo”

De acordo com parlamentares, ex-ministro da Justiça está “detonado”

Um grupo de senadores de oposição ao governo Lula (PT) esteve no 19° Batalhão de Polícia Militar, em Brasília, para visitar o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres. De acordo com o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), o ex-ministro da Justiça “chora o tempo todo” na cadeia.

– Viemos conversar com Anderson Torres. Lógico, ele está em um estado emocional muito forte, há quatro meses, praticamente, sem ver os filhos. A gente precisa se colocar no lugar do outro para saber o que é isso, ficar afastado da família todo esse tempo – afirmou Izalci em rede social.

Torres cumpre prisão preventiva como um dos investigados nos atos de 8 de janeiro, sob suspeita de que foi omisso e conivente diante da invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. As visitas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

– Ver o meu irmão Anderson naquela situação foi de arrebentar o coração. Uma prisão preventiva não pode durar tanto assim. O cara está magro, o cara está seco, barbudo. O cara está detonado, especialmente emocionalmente – disse o senador Jorge Seif (PL-SC), emocionado, ao relatar a visita.

Para Magno Malta, o ex-ministro está bastante “fragilizado”. A comitiva de senadores incluiu ainda o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), e Márcio Bittar (MDB-AC). Todos fizeram apelos para que o STF acate os pedidos da defesa do ex-ministro e relaxe a prisão, revogando a detenção com uso de tornozeleira eletrônica ou mantendo prisão domiciliar, por exemplo.

– Já era para no mínimo estar fora com tornozeleira ou em casa. Não dá para ficar eterno na prisão. Ele está disposto a falar normal e está com a consciência tranquila – afirmou Izalci.

A lista de visitantes liberados por Moraes inclui diversos nomes, em especial integrantes do governo Bolsonaro, como os ex-ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Sergio Moro (Justiça), Damares Alves (Direitos Humanos), Marcos Pontes (Ciência) e Tereza Cristina (Agricultura), além do ex-vice-presidente Hamilton Mourão.

A decisão de Moraes determinou que as visitas devem respeitar o limite de no máximo cinco pessoas por vez. É proibido entrar com celulares, câmeras ou gravadores, assim como entregar mensagens de “qualquer espécie”. A presença de assessores e seguranças também não foi permitida.

No mesmo despacho, Moraes negou mais um pedido da defesa de Torres, que solicitava que o ministro do STF reconsiderasse a decisão anterior e revogasse a prisão preventiva ou autorizasse a transferência do ex-ministro para o hospital penitenciário. Moraes, entretanto, declarou que o próprio governo do Distrito Federal concluiu que a transferência não era necessária.

Após deixar o 19º Batalhão de Polícia Militar, Marinho afirmou em suas redes sociais que a libertação de Torres é “um ato de justiça e de humanidade”.

O senador Jorge Seif se declarou emocionado ao encontrar Torres.

– É triste ele [Torres] não entender e não saber o porquê está passando por isso. Precisa de muita oração do Brasil pela vida dele porque de fato é uma covardia – disse Magno Malta, ao deixar o prédio.

O senador Márcio Bittar (MDB-AC) também defendeu a saída de Torres da prisão, argumentando que a decisão “completando quase quatro meses não se justifica”.

DEPOIMENTO
Torres presta depoimento na sede do 19º Batalhão da PM nesta segunda-feira (8), em Brasília, em outro inquérito do qual é pivô. A oitiva, programada para a semana passada, foi adiada a pedido da defesa do ex-ministro, que alegou que ele não tinha condições emocionais de falar.

Anderson Torres será ouvido nesta segunda sobre as abordagens da Polícia Rodoviária Federal a ônibus de eleitores, sobretudo no Nordeste, reduto eleitoral do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-ministro e ex-secretário foi preso ao retornar dos Estados Unidos, para onde viajou, de férias, pouco depois de assumir a gestão da segurança no DF. Ele havia tomado posse dia 2 e embarcou no dia 7 para Miami – onde já estava o ex-presidente Jair Bolsonaro. No momento da invasão, embora Torres já estivesse fora do país, seu período de descanso ainda não havia começado formalmente e estava programado, segundo o Diário Oficial, para segunda-feira (9).