Invasores exigiram água e garrafas foram entregues para acalmá-los, diz major à PF

José Eduardo Natale de Paula Pereira afirmou que não deu voz de prisão para os manifestantes porque “estava sozinho, desarmado, que corria risco de linchamento e de morte, tendo realizado o que estava ao seu alcance”Invasores receberam água mineral de militar e aperto de mão de integrante do GSI durante ataques do dia 8 de janeiro

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O major do Exército Brasileiro José Eduardo Natale de Paula Pereira declarou, nesta terça-feira (25), em depoimento à Polícia Federal (PF), que três ou quatro invasores exaltados do Palácio do Planalto durante os ataques criminosos de 8 de janeiro exigiram que lhes fosse dado água e, para acalmá-los, acabou por entregar.

CNN teve acesso em primeira mão às imagens do circuito interno de 22 câmeras do Palácio do Planalto no dia dos atos. Foram mais de 160 horas analisadas para a reportagem exibida em 19 de abril.

Segundo o oficial, a prioridade naquela ocasião era a proteção do Gabinete Presidencial, que fica localizado no terceiro piso. Ele se dirigiu para o local, e, por lá, encontrou outros manifestantes. Quando se identificou, foi hostilizado, e argumentou para tentar tranquilizar a situação.

Quando José Eduardo se dirigiu para a antessala do gabinete, encontrou uma senhora. Em sua avaliação, ela não apresentava risco e fez um sinal com a mão e saiu, para buscar maiores ameaças.

Posteriormente, se dirigiu para a copa, pegou água e em seguida apareceram os invasores citados.

“Os manifestantes questionaram de forma exaltada que local era aquele, ocasião na qual respondeu que se tratava de ama copa; que então os manifestantes exigiram que lhes dessem água; que o declarante entregou algumas garrafas de água com o intuito de acalmá-los e que não danificassem a cepa e ainda solicitou que saíssem do local”, explica o depoimento.

Conforme a citação do major, ele estava sozinho até aquele momento, sem nenhum agente público por aproximadamente uma hora. Durante esse período, permaneceu em contato com seus superiores solicitando reforços e os atualizando sobre a situação.

Quando escutou a tropa chegando, ordenou que todos os invasores saíssem do local, tendo em vista que com a situação, a chance de linchamento seria menor.

Nesse momento, visualizou um manifestante chutando uma porta de vidro, pegando um extintor de incêndio e partindo em direção à tropa do coronel Wanderli, que era formada em conjunto com policiais militares. O oficial tentou conter o homem, mas ele escapou.

Outra pessoa pegou mais um extintor e também foi para cima dos militares. O major expôs que tinha ciência que ambos seriam presos ao efetuar o ato.

Quando o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Gonçalves Dias chegou ao local, retirou as últimas pessoas que ali estavam, mandando para o segundo andar para serem detidas, conforme o militar.Câmeras mostram ministro do GSI no Palácio do Planalto. / Reprodução/CNN

Questionado por qual motivo não deu voz de prisão para os manifestantes, José Eduardo respondeu que “estava sozinho, desarmado, que corria risco de linchamento e de morte, tendo realizado o que estava ao seu alcance”.

Também explicou que não possui vinculação partidária e que a atividade realizada no Departamento de Gestão (DSEG) é de Estado, independente de governo.

Ainda citou que sempre teve o sonho de integrar o GSI e se qualificou nos últimos 19 anos para isso, sendo selecionado após rigoroso processo seletivo no Exército, sem indicações políticas.

Nível de risco

De acordo com o major José Eduardo Natale de Paula Pereira, o indicativo de risco para aquele dia era o laranja, sendo o terceiro nível de gradação de um total de cinco.

No dia da posse presidencial, o nível era o vermelho ou preto — quarto e quinto níveis, respectivamente — por exemplo.

Estando no nível laranja, o efetivo previsto era de um pelotão de cerca de 30 a 40 pessoas de prontidão no Palácio do Planalto.

Voz de prisão

Gonçalves Dias expressou durante seu depoimento à Polícia Federal, no dia 21 de abril, que teria prendido major José Eduardo se o tivesse visto dando água para os invasores.

“Indagado a respeito do major José Eduardo Natale de Paula Pereira haver entregue uma garrafa de água a um dos invasores, que deve ser analisado pelas circunstâncias do momento, os motivos do major, mas que se tivesse presenciado o teria prendido”, citou Gonçalves Dias em seu depoimento.