PF apura se candidata a deputada no RJ recebeu dinheiro do tráfico

Conversas mostram a advogada pedindo ‘doação’ ao traficante Marcinho VP.

Segundo Matéria do G1, Conversas mostram pedidos de ajuda de advogada a traficantes do Rio em período eleitoral: ‘Seu apoio para mim é fundamental’

A Polícia Federal investiga a advogada Flávia Fróes por associação com o tráfico de drogas. De acordo com os investigadores, ela pediu dinheiro para chefes de facções criminosas para a campanha à deputada federal nas últimas eleições.


Advogada Flávia Fróes durante campanha a deputada federal no ano passado — Foto: Reprodução/ TV Globo

Advogada Flávia Fróes durante campanha a deputada federal no ano passado — Foto: Reprodução/ TV Globo

As conversas investigadas entre a advogada Flávia Fróes e chefes do tráfico no Rio de Janeiro que estão detidos no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, mostram os pedidos de apoio durante a campanha eleitoral. A Polícia Federal (PF) apura o caso como associação ao tráfico de drogas e afirma que ela pediu dinheiro para eles para a campanha à deputada federal nas últimas eleições.

Flávia Fróes começou a ser investigada pela PF em um inquérito que apura a interferência do tráfico e da milícia no pleito de 2022.

“Mais importante, posso falar para sua família que você me apoia? Seu apoio para mim é fundamental!”, afirmou Flávia para Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, chefe do tráfico no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio.

Segundo as investigações, “família” é como sem chamam os membros da organização criminosa.

A TV Globo teve acesso a conversas que constam no inquérito. A advogada esteve no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, em maio do ano passado.

Marcinho VP  — Foto: Reprodução/TV Globo

Marcinho VP — Foto: Reprodução/TV Globo

Investigação

A investigação apura também se Flávia, que se intitula como “a braba”, comprou um BMW por R$ 280 mil no período eleitoral e usado para fazer campanha.

A advogada concorreu a deputada federal pelo União Brasil e recebeu pouco mais de 1,3 mil votos, e não foi eleita. Flávia também é presidente do Instituto Anjos da Liberdade: uma organização social que desenvolve projetos na área de direitos humanos, e faz a defesa do ex-vereador Dr. Jairinho, que vai a júri popular pela morte do menino Henry Borel.

Em junho, Flávia solicitou que Marcinho VP adiantasse uma quantia significativa. O valor de um “júri”, ela disse. Segundo as investigações, a quantia ultrapassava R$ 300 mil.

Flávia Fróes: “Deixa eu te falar uma coisa. Eu quero te fazer um pedido, vê aí você me manda uma resposta (…) eu estou entrando em processo eleitoral agora. Estou superenforcada, porque eu preciso respirar”.

Marcinho VP: “Eu Já tinha pedido já pra poder, pra poder resolver”.

Flávia Fróes: “Mas é o valor de um júri que eu estou pedindo, não estou te pedindo o que você já vai me dar. Vê com eles aí quem pode cotizar para me ajudar só para eu poder me desafogar pra eleição”.

Flávia conseguiu o dinheiro. A polícia investiga se, com parte da verba, Flávia comprou uma BMW por R$ 280 mil. Ela nega, e diz que comprou com um financiamento (veja nota no fim da reportagem).

A PF chegou a fazer o pedido de busca e apreensão e prisão da advogada, mas os pedidos foram negados pela Justiça Eleitoral em novembro de 2022.

Fabiano Atanázio da Silva — Foto: MARIO ÂNGELO/SIGMAPRESS/AE

Fabiano Atanázio da Silva — Foto: MARIO ÂNGELO/SIGMAPRESS/AE

Com Fabiano Atanásio da Silva, o FB, chefe do tráfico no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, Flávia comentou: “Eu sou candidata de um partido de direita, não sei se você sabe, do União Brasil, porque eles me deram televisão todo dia. Eu vivo na televisão, né? Todo dia”.

Em outro trecho, a advogada disse que queria apoio de FB e da família dele, e perguntou se poderia dizer que tinha o apoio do traficante.

FB respondeu: “Lógico que eu voto em você”.

Outros estados

Advogada Flávia Fróes — Foto: Reprodução/ TV Globo

Advogada Flávia Fróes — Foto: Reprodução/ TV Globo

As investigações da Polícia Federal apuram também se Flávia teve o apoio de traficantes de outros estados. No processo, que corre no Tribunal Regional Eleitoral, existe a transcrição de uma conversa dela com uma mulher. Ela diz que recebeu uma mensagem da liderança de uma facção criminosa de São Paulo dizendo que ela só não se elegeu porque não concorreu por lá.

A advogada demonstrou arrependimento por ter se candidatado pelo Estado do Rio de Janeiro.

Na conversa, Flávia diz: : “Eu me arrependo muito de ter vindo pelo Rio, sabe? O cara lá… Eles tinham me avisado. Falou: ‘Não vá pelo Rio, vem por aqui, São Paulo’.

A mulher respondeu: ” É Que o Rio não tem organização!”.

Na conversa, Flávia repetiu as palavras dos criminosos: “São Paulo a gente garante a sua eleição. Você em São Paulo tá eleita”.

Na mesma ligação Flávia disse: “Só vou continuar com o Marcinho, entendeu? Vou continuar com o Márcio, porque ele foi muito parceiro meu. Me ajudou. Foi quem me mandou dinheiro.”

O que dizem os citados

O União Brasil informou que, no ato de filiação, a advogada Flávia Fróes apresentou todos os documentos exigidos, que o partido zela pelos princípios éticos e não compactua com desvio de conduta de seus filiados.

A advogada Flávia Fróes disse que nada mais natural do que pedir o apoio eleitoral dos familiares dos presos e ela negou qualquer ajuda financeira. Disse também que as gravações mostram que há um pedido de adiantamento de honorários dos diversos processos em que atua na defesa dos clientes.

Flávia Fróes disse que a compra da BMW se deu mediante financiamento e que as especulações maliciosas são fruto de uma tentativa de criminalizar quem defende os direitos humanos no Brasil.