Além de acusações no Brasil, Lula é denunciado na Ucrânia

Governo ucraniano acusa Lula de promover propaganda pró-Rússia

Ex-presidente foi incluído em uma lista com 78 personalidades de vários países acusados de divulgar informações consideradas como propagada russa

Luis Inácio Lula da Silva foi incluído em uma lista de pessoas que promovem o que o governo da Ucrânia chamou de “propaganda russa” na guerra entre os dois países. Lula é o único brasileiro na lista do Centro de Combate à Desinformação, plataforma criada pela defesa ucraniana.

O governo ucraniano incluiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma lista de pessoas acusadas de divulgar informações consideradas como propaganda russa durante a guerra entre os dois países.

O documento foi divulgado em 14 de julho pelo Centro de Combate à Desinformação da Ucrânia, órgão governamental criado para contestar informações divulgadas pela Rússia.

A lista contém 78 personalidades de vários países e as frases consideradas pró-Rússia pelo governo ucraniano. Lula é o único brasileiro citado, junto com duas frases atribuídas ao ex-presidente.

Segundo o documento, o petista afirmou que a Rússia deveria liderar a “nova ordem mundial”. Não há, porém, qualquer registro que atribua a fala a Lula. 

Críticas a Volodymyr Zelenskyy

A segunda frase foi retirada de uma entrevista que o ex-presidente deu para a revista americana Time, divulgada em 4 de maio deste ano.

“Às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão, como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin, porque numa guerra não tem apenas um culpado”, disse Lula à revista.

Logo após a divulgação da entrevista, a Embaixada da Ucrânia no Brasil criticou o posicionamento do ex-presidente.

“A Embaixada planeja solicitar formalmente uma audiência do estimado ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva com o Encarregado de Negócios da Ucrânia no Brasil, senhor Anatoliy Tkach para esclarecer a posição da Ucrânia”, afirmou a embaixada em nota. 

Até a última atualização desta reportagem o ex-presidente Lula não havia se posicionado sobre a lista feita pelo governo da Ucrânia. 

O documento ucraniano contém jornalistas, políticos, militares e outras personalidades acusados pelo governo de divulgar propaganda pró-Rússia. Entre os citados estão o jornalista americano Glenn Greenwald, a política francesa Marine Le Pen, e o empresário e ativista alemão Kim Dotcom. 

Acusações no Brasil:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que permaneceu preso por um ano, sete meses e um dia, foi solto após o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir contra as prisões após condenação segunda instância.

Lula cumpriu pena desde o dia 7 de abril de 2018 após ter sido condenado no processo do tríplex do Guarujá pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A condenação foi confirmada em segunda instância pelo TRF4, em 2018, com pena de 12 anos e um mês.

Apesar da liberdade conquistada após 580 dias, no Brasil Lula é acusado e réu em outros casos.

Lula culpa Zelensky pela guerra na Ucrânia: ‘Tão responsável quanto Putin’

O ex-presidente declarou sua opinião na entrevista à revista norte-americana, Time

Candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com a revista norte-americana “Time” sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. Estampado na capa desta semana, o petista avaliou que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é tão responsável pelo conflito como o russo Vladimir Putin. Para Lula, os Estados Unidos e a União Europeia também têm parte da culpa pela guerra.

De acordo com o ex-presidente, a guerra poderia ter sido evitada se houvesse diálogo entre as nações. “Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, eu vou colher coisa boa. Mas se eu planto discórdia, eu vou colher desavenças. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema”, afirmou à revista.


Questionado se ele acredita que a motivação do conflito foi a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), ele respondeu: “Esse é o argumento que está colocado. Se tem um segredo nós não sabemos. O outro é a [possibilidade de a] Ucrânia entrar na União Europeia. Os europeus poderiam ter resolvido e dito: ‘Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar’. Eles não precisariam fomentar o confronto!”, apontou. 


“Não tentaram [diálogo com a Rússia]. As conversas foram muito poucas. Se você quer paz, você tem que ter paciência. Eles poderiam ter sentado numa mesa de negociação e passado 10 dias, 15 dias, 20 dias, um mês discutindo para tentar encontrar a solução. Então eu acho que o diálogo só dá certo quando ele é levado a sério”, completou.


O petista considerou em um cenário que fosse presidente, quais seriam suas ações. “Eu, se fosse presidente hoje, teria ligado para o [Joe] Biden, teria ligado para o Putin, para a Alemanha, para o [Emmanuel] Macron, porque a guerra não é saída. Eu acho que o problema é que, se a gente não tentar, a gente não resolve. É preciso tentar”, declarou.


Ele ressaltou ainda que a democracia deve ser respeitada e citou o exemplo de 2019, quando o venezuelano Juan Guaidó se autodeclarou presidente do país. “Às vezes eu fico preocupado. Eu fiquei muito preocupado quando os Estados Unidos e a União Europeia adotaram o Guaidó [então líder da assembleia nacional da Venezuela] como presidente do país [em 2019]. Você não brinca com democracia. O Guaidó para ser presidente da Venezuela teria que ser eleito. A burocracia não substitui a política. Na política são os dois chefes que mandam, os dois que foram eleitos pelo povo, que têm que sentar numa mesa de negociação, olho no olho, e conversar”, disse.


Lula adotou um tom mais crítico à Zelensky: “E agora, às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: ‘Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas’. Ele ficou mentindo para o seu povo. Agora, esse presidente da Ucrânia poderia ter dito: ‘Olha, vamos deixar para discutir esse negócio da OTAN e esse negócio da Europa mais para frente. Vamos primeiro conversar um pouco mais.’”


O ex-presidente apontou que Zelensky deveria estar preocupado com uma negociação entre as nações e não com aparições públicas. “Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no parlamento inglês, no parlamento alemão, no parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação”, criticou.


Para Lula, o presidente ucraniano não agiu para evitar o conflito com a Rússia. “Ele quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]!”, afirmou.


“Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’”, acrescentou.


As críticas não pararam em Zelensky, ele também ressaltou que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está enfrentando dificuldades. “Eu fiz até um discurso elogioso ao Biden quando ele anunciou o primeiro programa econômico dele. O problema é que não basta você anunciar um programa, é preciso executar o programa. E eu acho que o Biden está vivendo um momento difícil”, destacou.


“Acho que ele não tomou a decisão correta nessa guerra Rússia e Ucrânia. Os Estados Unidos têm um peso muito grande e ele poderia evitar isso, e não estimular. Poderia ter falado mais, poderia ter participado mais, o Biden poderia ter pegado um avião e descido em Moscou para conversar com o Putin. É esta atitude que se espera de um líder. Que ele tenha interferência para que as coisas não aconteçam de forma atabalhoada. E eu acho que ele não fez”, observou.


Lula disse ainda que faltou uma maior liderança do presidente estadunidense. “Da mesma forma que os americanos convenceram os russos a não colocar mísseis em Cuba em 1961, o Biden poderia falar: ‘Vamos conversar um pouco mais. Nós não queremos a Ucrânia na OTAN, ponto’. Não é concessão. Deixa eu lhe contar uma coisa: se eu fosse presidente da República e me oferecessem ‘o Brasil pode entrar na OTAN’, eu não ia querer”, alegou.


Ele explicou: “Eu sou um cara que só pensa em paz. Eu não penso em guerra. […] O Brasil não tem contencioso nem com os Estados Unidos, nem com a China, nem com a Rússia, nem com a Bolívia, nem com a Argentina, nem com o México. E é o fato de o Brasil ser um país de paz que vai lhe fazer restabelecer a relação que nós criamos de 2003 a 2010. O Brasil vai virar protagonista internacional, porque a gente vai provar que é possível ter um mundo melhor.”


Por fim, Lula apontou uma saída para todos estes conflitos: “É urgente e é preciso a gente criar uma nova governança mundial. A Organização das Nações Unidas (ONU) de hoje não representa mais nada. A ONU de hoje não é levada a sério pelos governantes. Porque cada um toma decisão sem respeitar a ONU. O Putin invadiu a Ucrânia de forma unilateral, sem consultar a ONU. Os Estados Unidos costumam invadir os países sem conversar com ninguém e sem respeitar o Conselho de Segurança. Então é preciso que a gente reconstrua a ONU, coloque mais países, envolva mais pessoas. Se a gente fizer isso, a gente começa a melhorar o mundo”, concluiu.