Ex-pastores da Igreja Universal são investigados por desviar R$ 3 milhões no DF

Ex-pastores da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) são suspeitos de operar esquema milionário de desvio de dízimos e ofertas dentro das unidades religiosas da capital federal

Em Brasília, a direção da Universal acionou o Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Em maio de 2021 a Igreja Universal pediu abertura de inquérito contra o ex-pastor regional Nei Carlos dos Santos à Polícia Federal.

Para a Iurd, o grupo, supostamente liderado pelo ex-pastor, teria desviado cerca de R$ 3 milhões. Os pseudo-religiosos abriram empresas de fachada para lavar os recursos amealhados com os desvios, principalmente do chamado “Culto dos 318”, reunião de fiéis destinada a empresários e pessoas que almejam prosperidade financeira.

Santos e os outros 11 religiosos também teriam ligação com o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como Faraó dos Bitcoins, preso pela Polícia Federal em agosto deste ano. A PF acredita que as movimentações bilionárias feitas pelo Faraó teriam começado com o desvio de ofertas dos fiéis da Universal, supostamente facilitadas por Nei.

O site Metrópoles teve acesso a documentos que indicam a prática de delitos como organização criminosa, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.

A Universal acionou as autoridades policiais ao tomar conhecimento do desfalque milionário. Outra medida adotada pela igreja foi demitir os 12 suspeitos.

Trajetória ilícita

A jornada profissional de Nei dos Santos é marcada por extremos. Quando jovem, morava no Gama Leste e atuava como motoboy. Em 1997, foi consagrado pastor da Iurd.

Seis anos depois, passou a conquistar a confiança da cúpula da igreja e começou a exercer atividade de pastor regional no Distrito Federal, função sensível, pois era o responsável por vários templos, não só dando suporte espiritual, mas também com acesso irrestrito às ofertas e doações, sendo responsável direto por prestar contas à direção.

O padrão de vida teve uma mudança acentuada mesmo com o salário mensal de R$ 2,9 mil, em 2020. Nesse ano, Nei dos Santos mudou-se para um apartamento de luxo na Quadra 208 da Asa Norte, bairro nobre de Brasília.

O edifício tem dois apartamentos por ano. Os imóveis são vazados e com amplo espaço na cobertura. Mesmo recebendo pouco mais de dois salários mínimos, Santos conseguiu adquirir um imóvel no sexto andar do edifício, por R$ 2,6 milhões, com parcela mensal de R$ 87,7 mil.

Carros caros 

Segundo a instituição religiosa, o primeiro alerta foi quando a igreja descobriu que Nei Santos comprou três carros avaliados, de acordo com documento, em R$ 248 mil. Valores incompatíveis com a ajuda de custo que ele recebia da igreja.

Segundo a direção da Iurd, ao perceber o rombo, afastaram o então pastor da atividade regional. Outros 11 pastores, sem incluir Nei e Glaidson, estavam no esquema de operações financeiras em bitcoins.

O vínculo entre Nei Santos e Glaidson surgiu no início do ano, quando a Iurd fez um levantamento das empresas dos ex-pastores na Receita Federal, e percebeu que o endereço da NS PsicologiaConsultoria e Tecnologia Eireli, na Rua Copaíba, lote 1, sala 1119, Norte Águas Claras, em Brasília, pertencente  Nei Santos, funcionava a GAS Consultoria e Tecnologia LTDA, de Glaidson.

A petição foi assinada pelo advogado Alan Costa Nazário, um dos que fazem a defesa da Universal. Diz ele: “Desta forma, se confirmam os indícios da participação de terceiros no enredo criminoso. Esta empresa G.A.S Consultoria & Tecnologia LTDA, guarda relação com o mercado de criptomoedas, e de alguma forma pode estar envolvida com a dissimulação do produto do crime, tornando imprescindível a instauração do inquérito policial para melhor elucidação dos fatos”. O advogado pediu a quebra do sigilo fiscal e bancário de Nei Santos. Fonte: metropoles