Argélia: incêndios deixam ao menos 69 mortos e população se mobiliza na luta contra o fogo

Imagens de casas destruídas pelo fogo na Argélia — Foto: Ryad Kramdi/ AFP

Pelo menos 69 pessoas morreram nos incêndios que devastam o norte da Argélia, alimentados pelo calor extremo. Junto aos bombeiros, soldados e a própria população lutam desesperadamente contra as chamas.

Incêndios florestais deixam 65 mortos na Argélia

Nas montanhas ao redor de Tizi Ouzou, na região da Cabília, norte da Argélia, os focos de incêndio se multiplicam desde 9 de agosto. Segundo as autoridades, nove mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas.

Um balanço oficial aponta que entre as vítimas, há 28 soldados. Cerca de 20 pessoas estão desaparecidas e quantidade de mortos deve aumentar nas próximas horas.

“Há um pânico geral nos vilarejos, as pessoas não sabem o que fazer, então elas estão fugindo. Não há mais energia elétrica, rede de telefonia, é realmente infernal. Em alguns municípios, nem sabemos mais o que acontece. Somos obrigados a verificar esses lugares por conta própria, mas muitas vezes a estrada está inacessível por causa do fogo”, diz Kamira, à RFI.

Segundo a Proteção Civil, na noite de quarta-feira (11), 69 incêndios ainda estavam ativos em 17 localidades. Além da onda de calor, os ventos espalham o fogo e complicam a tarefa das equipes de resgate.

O presidente Abdelmadjid Tebboune declarou um luto nacional de três dias a partir desta quinta-feira (12). As mesquitas anunciaram que vão dedicar a oração da sexta-feira (13) às vítimas. No entanto, o governo argelino é extramente criticado no gerenciamento da crise. Nas redes sociais, internautam fazem apelos para que as autoridades a solicitem ajuda internacional.

“O Estado está ausente. Não temos ninguém do governo aqui em Tizi Ouzou. É a própria população que tenta se organizar e, infelizmente, como não temos experiência, cada um acaba fazendo o que acha que é melhor. Mas estamos vendo que a boa vontade não é suficiente”, diz Hakim, morador de um dos vilarejos atingidos pelos incêndios.

Segundo o gabinete do primeiro-ministro argelino, Aimene Benabderrahmane, dois aviões-tanque da União Europeia devem ajudar no combate às chamas a partir desta quinta-feira.

População mobilizada

Nas redes sociais argelinas, junto aos pedidos de ajuda, circulam fotos de árvores queimadas, vilarejos cercados pelas chamas, animais morrendo de sufocamento. Convocações para a organização de comboios solidários se multiplicam. Os internautas pedem principalmente doações de alimentos, remédios e ajuda na busca de água para combater os incêndios.

O argelino Amine Ghaoui, lidera um comboio que saiu da cidade de Khenchela, no leste do país, em direção à Cabília, a cerca de 500 quilômetros. “Somos cerca de 50 pessoas. Estamos levando equipamentos para lutar contra o fogo e remédios para ajudar a tratar os feridos”, disse à RFI.

Clínicas médicas particulares estão tratando os feridos gratuitamente. Hoteis e salões de festa que organizam casamentos estão alojando as famílias que perderam suas casas.

Salim Bechohra mora no centro da cidade de Tizi Ouzou e organiza a distribuição da ajuda que chega ao local. “Recebemos leite, pão, pomada para queimaduras. A população está realmente precisando disso. A chegada de comida e medicamento é um alívio”, diz.

Incêndios criminosos

A pista criminal foi mencionada várias vezes pelas autoridades argelinas. A rádio pública APS anunciou a prisão de três “incendiários” na cidade de Medeia na terça-feira. Outro foi preso em Anaba. Um deles confessou ser ateado fogo propositalmente. Segundo o primeiro-ministro, ocorreram 70 incêndios “de origem criminosa”, também facilitados pelas condições meteorológicas.

A questão vem preocupando as autoridades argelinas. No início de julho, três pessoas foram presas depois de terem colocado fogo na vegetação, destruindo 1.500 hectares de floresta no país. Há poucas semanas, o presidente Abdelmadjid Tebboune anunciou a elaboração de um projeto de lei que pune os autores de incêndios criminais com penas que vão até a 30 anos de prisão em regime fechado ou até mesmo prisão perpétua no caso desses incidentes terem causado mortes. Fonte: G1