Novos confrontos na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém deixam quase 300 feridos

Uma das causas da tensão recente em Jerusalém Oriental é o futuro de várias famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, ameaçadas de expulsão em benefício de colonos israelenses

Quase 300 pessoas ficaram feridas nesta segunda-feira (10/5), a maioria palestinos, em novos confrontos com policiais israelenses na Esplanada das Mesquitas de Jerusalém, após um fim de semana de distúrbios na Cidade Sagrada.

Diante do aumento da violência, o Conselho de Segurança da ONU, a pedido da Tunísia, deve se reunir ainda nesta segunda para abordar a situação em Jerusalém.

A retomada dos confrontos coincide com a celebração, no calendário hebreu, do “Dia de Jerusalém”, que marca a conquista da parte leste da cidade por Israel em 1967.

Durante a manhã, centenas de palestinos atiraram projéteis contra as forças de segurança israelenses na Esplanada das Mesquitas, terceiro local sagrado do islamismo, que os judeus chamam de Monte do Templo.

O Crescente Vermelho palestino informou um balanço de pelo menos 278 palestinos feridos, incluindo 205 que precisaram de hospitalização. Cinco pacientes estão em situação crítica.

“Tememos que algo grave aconteça hoje”, disse o médico Adnan Farhud, diretor-geral do hospital Makassed, à AFP, ao mencionar pessoas feridas com balas borracha nos olhos e rosto.

Nove agentes foram feridos, segundo a polícia israelense.

Perto da Esplanada, um carro que transportava israelenses foi atacado com pedras e perdeu o controle, antes de avançar na direção dos palestinos.

Depois que parou, várias pessoas atacaram o veículo. Um policial israelenses dispersou a multidão com tiros para o alto.

“Firmeza”

A polícia israelense afirmou em um comunicado que trabalha para tentar frear a violência na Esplanada, assim como em outros setores da Cidade Antiga de Jerusalém”.

“A oração continua como de costume no Muro das Lamentações”, local sagrado do judaísmo e adjacente à Esplanada das Mesquitas, mas “não deixaremos que os extremistas ameacem a segurança do público”, completa a nota.

Na sexta-feira (7/5) à noite, mais de 200 pessoas ficaram feridas em confrontos entre a polícia e os palestinos na Esplanada das Mesquitas.

No sábado (8/5) e domingo (9/5) a calma retornou ao local, mas os confrontos aconteceram em outras áreas de Jerusalém Oriental, com um balanço de mais de 100 feridos, segundo o Crescente Vermelho.

No momento em que os apelos internacionais por calma se multiplicam, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou nesta segunda-feira a “firmeza” das forças de segurança para garantir a “estabilidade” em Jerusalém e criticou a cobertura “equivocada da imprensa internacional”.

No domingo, Netanyahu disse que determinaria o respeito “à lei e à ordem” e defendeu a ampliação das colônias judaicas na parte leste de Jerusalém, ocupada e anexada desde 1967 por Israel.

“Jerusalém é a capital de Israel”, disse.

De Sheikh Jarrah a Gaza

Uma das causas da tensão recente em Jerusalém Oriental é o futuro de várias famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, ameaçadas de expulsão em benefício de colonos israelenses.

“No contexto atual”, a Suprema Corte israelense adiou uma audiência sobre o caso prevista para esta segunda-feira (10/5), anunciou o ministério da Justiça.

A partir da Faixa de Gaza, território palestino controlado pelos islamitas do Hamas, foram lançados balões incendiários e foguetes contra Israel em apoio aos manifestantes de Jerusalém.

O exército israelense anunciou os disparos de mais sete foguetes no domingo à noite e na madrugada de segunda-feira: dois foram interceptados pelo sistema antimísseis ‘Cúpula de Ferro’.

Em represália, tanques israelenses atacaram postos militares do Hamas no sul da Faixa de Gaza, informou o exército, que também fechou a passagem de fronteira de Erez, a única que permite aos moradores de Gaza entrar em Israel.

Pedidos de calma

O governo dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, pediu às autoridades israelenses e palestinas que atuem para acabar com a violência e expressou preocupação com a “possível expulsão das famílias palestinas de Sheikh Jarrah”.

Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão – países árabes que normalizaram as relações com Israel – expressaram “profunda preocupação” e pediram calma a Israel, assim como o Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, Rússia, ONU e União Europeia), que pediu “moderação”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a Israel a interrupção das demolições e expulsões, de acordo com suas obrigações estipuladas pelas leis internacionais.

A Turquia afirmou nesta segunda-feira (10/5) que Israel “deve parar de atacar os palestinos em Jerusalém e impedir que os ocupantes e os colonos entrem na sagrada mesquita (de Al Aqsa)”.

Fonte: Correio Braziliense

Adiada decisão sobre despejo de palestinos de hoje para o mês que vem

Em meio a violentos confrontos, Suprema Corte de Israel transfere de hoje para o mês que vem a audiência sobre a retirada de três famílias de Jerusalém Oriental. Com isso, governo de Benjamin Netanyahu, que repudia pressões contra a construção na cidade sagrada, tenta ganhar tempo

(crédito: Mahmud Hams/AFP)

No terceiro dia dos violentos protestos em Jerusalém, deflagrados pela ameaça de expulsão de três famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, na parte oriental, o Supremo Tribunal de Justiça de Israel resolveu adiar em 30 dias a audiência sobre o despejo, que estava marcada para hoje, a pedido do procurador-geral, Avichai Mendelblit. Desde sexta-feira, a chamada Cidade Santa vive dias de confronto entre manifestantes e as forças de segurança israelenses, com centenas de feridos, incluindo uma criança de 1 ano. Dezessete policiais também foram atingidos.

O papa Francisco pediu, na manhã de ontem, o fim dos ataques em Jerusalém. “A violência só alimenta violência. Paremos com esses confrontos”, disse em sua mensagem dominical, acrescentando que acompanha “com particular preocupação os acontecimentos”. O pontífice também pediu que a “identidade multirreligiosa e multicultural seja garantida e que a fraternidade prevaleça”.

No sábado, integrantes do Quarteto do Oriente Médio (ONU, União Europeia, Estados Unidos e Rússia) expressaram “profunda preocupação com os confrontos diários”, em um comunicado. Os EUA apelaram às “autoridades israelenses e palestinas a agirem para acabar com a violência”. No Golfo, a Arábia Saudita denunciou as possíveis expulsões, enquanto Irã, Tunísia, Paquistão, Turquia, Jordânia e até Egito condenaram as ações de Israel. A Tunísia também convocou uma sessão do Conselho de Segurança da ONU para hoje.

No início do ano, um tribunal israelense decidiu a favor dos colonos judeus que buscam expulsar os palestinos de suas casas em Sheikh Jarrah. As famílias judias comprovaram uma reivindicação de décadas sobre a terra, o que irritou os palestinos e gerou meses de protestos, que aumentaram nas últimas noites. Outros incidentes ajudaram a escalonar a tensão: em abril, a polícia fechou a praça em frente ao Portão de Damasco em Jerusalém Oriental, ponto de encontro após as orações noturnas do Ramadã. A ação gerou confrontos violentos com a polícia, que levantou as barricadas após várias noites de tumultos.

Na sexta-feira, depois das orações do mês santo dos palestinos, começaram os confrontos na Praça Al-Aqsa , que deixaram mais de 200 feridos. A polícia disse que agiu em resposta a projéteis lançados por “milhares” de manifestantes. Os confrontos do sábado terminaram com um saldo de 120 feridos. Ontem, a tensão ainda era elevada em Jerusalém Oriental.

Críticas internacionais
Israel tem enfrentado crescentes críticas internacionais por sua forte resposta policial e pelos despejos planejados. Na semana passada, um órgão de direitos da ONU descreveu a expulsão de árabes de suas casas como um possível crime de guerra. Ontem, a Jordânia, que tem a custódia de locais muçulmanos e cristãos em Jerusalém, chamou de “bárbaras” as ações de Israel contra os adoradores em al-Aqsa.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi desafiador, dizendo que seu país continuaria a construir na cidade — uma referência aos assentamentos judeus internacionalmente condenados em áreas de maioria palestina ocupadas por israelenses. “Rejeitamos firmemente a pressão para não construir em Jerusalém”, disse, em um discurso na televisão. O político advertiu que “reagirá com força” ante os tumultos.

Os confrontos na Esplanada das Mesquitas dos últimos dias são os mais violentos desde 2017, quando Israel decidiu colocar detectores de metal na entrada do local, antes de voltar atrás. O Hamas, movimento islâmico palestino que controla a Faixa de Gaza, pediu aos palestinos que permaneçam no local dos protestos até quinta-feira — dia que marca o fim do Ramadã — e ameaçou o governo israelense com ataques, caso a Suprema Corte aprove as expulsões de Sheikh Jarrah.

A tensão também é grande na Faixa de Gaza, com soldados israelenses disparando gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes palestinos reunidos perto da barreira de separação. Balões incendiários foram vistos na noite de sábado, em direção ao sul de Israel, mas sem causar danos. Ontem, segundo o Exército, um foguete foi lançado, seguido de retaliação, onde um posto militar do Hamas teria sido atingido.