Laboratório em Santa Maria, no DF, será o 1º do país a produzir vacina russa contra Covid-19

Apesar de a imunização ainda não ter sido aprovada pela Anvisa, grupo farmacêutico faz últimos ajustes para iniciar produção da fórmula

Afábrica Bthek Biotecnologi, localizada no Polo de Desenvolvimento JK, em Santa Maria, será a primeira do país a fabricar as doses da candidata à vacina russa Sputnik V. A unidade pertence ao grupo farmacêutico União Química, que se associou ao Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) para a iniciativa.

A previsão é de que já em novembro seja iniciada a produção piloto do imunizante contra a Covid-19.

pesquisa vacinaBOONCHAI WEDMAKAWAND/GETTY IMAGES
O contrato da União Química com representantes da Rússia inclui a transferência de tecnologia da vacina, que será distribuída em larga escala para o Brasil e países vizinhos. O plano é que o Distrito Federal funcione como o braço industrial do RDIF na América Latina.

A aplicação da vacina russa ainda não foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas os preparativos pretendem acelerar a produção para quando o registro for obtido.

Vetor viral

Parte da matéria-prima da vacina desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, de Moscou, chegou ao DF na quinta-feira (22/10).

A carga com o vetor viral – organismo vivo que é responsável por conduzir a fórmula da imunização no corpo das pessoas imunizadas – foi recebida pelos coordenadores de biotecnologia do Grupo União Química, Natasha Kuniechick e Rafael Munareto do Nascimento.

Nas próximas semanas, um cientista do Instituto Gamaleya virá ao Brasil orientar a equipe local para a produção de uma cópia da candidata à imunização feita na Rússia e participar da verificação dos equipamentos da fábrica.

Diretor de negócios internacionais do grupo União Química e ex-governador do Distrito Federal, Rogério Rosso explicou que a produção da vacina neste primeiro momento é apenas experimental e que, por ora, o imunizante não será destinado à população. O intuito é garantir as doses necessárias aos testes que precisam ser realizados

“Essa etapa faz parte do universo do setor farmacêutico. Só após a validação da vacina pela Anvisa e com as autorizações regulatórias é que vamos poder começar a imunização do povo brasileiro de acordo com a coordenação do RDIF. Nesse processo, a Anvisa é o nosso guia. Vamos respeitar as etapas do protocolo da agência”, destacou Rosso.

De acordo com a União Química, os pedidos para o início dos testes clínicos da vacina russa e registro serão protocolados na Anvisa nos próximos dias. “O RDIF estabeleceu três polos de produção: Rússia, Índia e Brasil. Aqui, vamos fabricar vacinas para o Brasil e também para os mercados da América Latina”, explicou o diretor.

A União Química conta com nove fábricas no Brasil, duas delas no Distrito Federal. Para que a demanda seja atendida, o presidente do grupo, Fernando Marques, colocou todas as unidades à disposição do fundo russo.

Os coordenadores da produção brasileira, Natasha e Rafael, foram à Rússia, ainda em setembro, para conhecer os cientistas envolvidos no desenvolvimento da Sputnik V e a linha de produção estabelecida para a fabricação da vacina.

“O Instituto Gamaleya é muito sério e reconhecido por trabalhar com adenovírus humanos, que é o vetor de vacina desde os anos oitenta. Eles desenvolveram as vacinas do Ebola e Mers com a mesma plataforma de adenovírus, então têm muita experiência no assunto. A gente trouxe o conhecimento para aplicar no Brasil e fazer o piloto. Foi uma experiência muito gratificante e confirmou as nossas expectativas de que eles têm domínio e conhecimento da área, com muita seriedade”, ressaltou Natasha, da União Química.

Primeira do mundo

A Sputink V foi registrada na Rússia em 11/8, tornando-se a primeira vacina contra o coronavírus a conseguir autorização estatal para aplicação.

A comunidade científica internacional recebeu a notícia com surpresa, pois os desenvolvedores não apresentaram evidências que comprovassem a segurança e eficácia da imunização.

Cerca de um mês depois, dados iniciais sobre a vacina foram publicados na revista The Lancet. De acordo com o estudo, o método de imunização do Instituto Gamaleya induziu resposta imune para combater o novo coronavírus no intervalo de 21 dias e não causou efeitos adversos nos voluntários.

Entretanto, a fase 3, que no Brasil é uma etapa obrigatória para obtenção de registro dos ensaios clínicos, ainda não foi encerrada.

Fonte: Metropoles