‘Cobra dá mais lucro do que ouro’ Estudante picado por naja no DF recebe alta e vai para casa

‘Cobra dá mais lucro do que ouro’, diz em MT administrador de serpentário

Um grama de veneno custa em média R$ 400, segundo especialista.
Veneno é utilizado para o tratamento de câncer e outras doenças.

COBRA JIBÓIA (Foto: Denise Soares/ G1)De acordo com especialista, em Mato Grosso ainda não há nenhum serpentário. (Foto: Denise Soares/ G1)

A criação de serpente se tornou mais lucrativa do que investir em ouro, como garante o administrador de empresas, Marcos Francote, especialista em gestão comercial de serpentário. Segundo ele, um grama de veneno de cobras das espécies cascavel e jararaca custa em média R$ 400 e o da coral chega a custar R$ 7 mil. O material é utilizado para tratamentos de câncer, pressão alta, derrame cerebral, hemorragia, entre outros.

O ramo, porém, é novo no país. Ao todo são 20 serpentários, sendo que a maioria deles fica nos estados de São Paulo e Paraná, como explica Francote. Em Mato Grosso ainda não há nenhum cativeiro de serpentes. “Isso é algo novo. Faz apenas uns dois anos que o Brasil está trabalhando com isso”, disse, ao pontuar que há muito tempo se extrai o veneno para fazer o soro antiofídico, mas não para a cura de doenças.

Para iniciar o negócio, não é necessário investir muito, conforme o administrador que vai ministrar um curso sobre o assunto em Cuiabá no próximo dia 21. Ele afirma que cada filhote de serpente custa R$ 60 e com 10 animais já é possível começar a atuar na área. No entanto, é preciso seguir algumas exigências, como, por exemplo, obter autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), adquirir os animais em serpentários cadastrados junto ao Ibama e ter um espaço adequado na zona rural para a construção do cativeiro.

De acordo com Marcos Francote, cada cobra tem em média 15 filhotes por ano. “Se começar com 10 cobras, em seis meses elas se transformarão em 150. Nesse período, já será possível faturar em torno de R$ 8 mil por mês”, disse ao G1. Já o espaço deve ser de um metro quadrado para cada animal e construído em alvenaria. As paredes devem ter dois metros de altura e o local deve ser coberto com tela para evitar a entrada de predadores, enquanto no chão deve ser plantado grama.

Quanto à segurança, o administrador garante que não há nenhuma preocupação, já que as cobras não fogem do cativeiro. Cada animal come apenas um camundongo por mês e recebem atenção de um médico veterinário mensalmente. “O veterinário vai ao local uma vez por mês para limpar e ver os animais”, contou. Um veterinário responsável tem que emitir um relatório anual do serpentário para entregar ao Ibama.

A extração do veneno pode ser feita a cada 30 dias, período suficiente para a recuperação do animal, por técnicos especializados. O material é vendido para laboratórios da Alemanha, Suiça e Estados Unidos. Francote assegura que a procura pelo veneno é muito grande

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apreendeu, na manhã deste sábado (11), mais uma cobra do estudante que foi picado por uma serpente da espécie naja, na última terça-feira (7). O animal estava escondido em um apartamento localizado no Guará, que seria de um amigo do jovem.

Além da serpente da espécie jiboia arco-íris, segundo o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Cabral, foi encontrada a pele de uma serpente surucucu e diversos ratos que seriam criados “para servir de alimento ao animal”, carcaça de tatu e pena de arara.

“Uma questão grave é que essa pele daqui é de surucucu, uma serpente peçonhenta que só ocorre na Mata Atlântica e na Amazônia, e nós estamos no Cerrado. Então, isso denota que o animal esteve aqui ou alguém que detém esse animal entregou de presente a pele a essa pessoa”, afirma analista do Ibama.

Estado grave

2 de 3 Cobra Naja que picou estudante em Brasília faz ensaio fotográfico no zoológico — Foto: Ivan Mattos/Zoológico de Brasília

Cobra Naja que picou estudante em Brasília faz ensaio fotográfico no zoológico — Foto: Ivan Mattos/Zoológico de Brasília

O acidente ocorreu no dia 7 de julho. O jovem estava em uma chácara quando foi picado pela naja. Segundo os policiais, ele teria ligado para os pais avisando sobre o acidente. A região exata do acidente não foi divulgada pela Polícia Civil.

Quando chegou ao hospital, ele estava consciente. No entanto, o quadro se agravou rapidamente e Pedro entrou em coma.

Ele precisou receber soro antiofídico do Instituto Butantan, em São Paulo, por causa da picada da naja – uma das cobras mais venenosas do mundo, originária de regiões da África e da Ásia. A unidade era a única que possuía o soro no país.

No domingo (12), ele recebeu alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e foi levado para o quarto, onde ficou até esta segunda.

Tráfico de animais

Cobra Naja pode revelar esquema de tráfico: o que já sabemos

A Polícia Civil do DF acredita que o estudante de medicina veterinária esteja envolvido em um esquema de tráfico de animais silvestres. Ele é suspeito de criar e reproduzir serpentes para vender no comércio ilegal.

Na semana passada, a corporação apreendeu 16 cobras que seriam dele em um haras, em Planaltina. O imóvel é do pai de um amigo de Pedro, chamado Gabriel Ribeiro. A polícia acredita que ele foi o responsável por abandonar a naja próximo a um shopping da capital após o acidente.

3 de 3 Cobra Naja que picou estudante em Brasília faz ensaio fotográfico no zoológico — Foto: Ivan Mattos/Zoológico de Brasília

Cobra Naja que picou estudante em Brasília faz ensaio fotográfico no zoológico — Foto: Ivan Mattos/Zoológico de Brasília

Ainda internado, o estudante foi multado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em R$ 2 mil por criar a naja sem autorização.

Onde está a serpente?

Após ser resgata, a serpente foi levada pelo Ibama até o Zoológico de Brasília. O animal está sob os cuidados de veterinários e biólogos do local.

Naja que picou estudante ganha casa nova no zoológico

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Durante a semana, a naja passou por exames. Ela deve ficar no zoológico até haver uma definição dos órgãos ambientais sobre o destino do animal.

No dia 10 de julho, o Zoológico de Brasília realizou um ensaio fotográfico com a cobra, após ela ter saído da caixa em que foi abandonada. Segundo o autor dos cliques, o fotógrafo Ivan Mattos e voluntário do local, a sessão de fotos durou cerca de 1 horas. Após o ensaio, as fotos chegaram a viralizar na internet.