Depois de passear pelo DF, Bolsonaro cogita autorizar a volta ao trabalho

Bolsonaro contraria Mandetta, sai às ruas do DF e cogita publicar decreto que autoriza a volta ao trabalho. Partidos assinam carta conjunta em repúdio à atitude do presidente e ressaltam que é falso o debate entre economia e saúde na crise da Covid-19

Bolsonaro visita padaria no Sudoeste, bairro que tem 17 casos confirmados de coronavírus: “Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque”(foto: Facebook/Reprodução)

Em meio à pandemia de coronavírus, e um dia após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, insistir para que as pessoas fiquem em casa, o presidente da República, Jair Bolsonaro, percorreu regiões administrativas do Distrito Federal. No passeio, que abrangeu as cidades de Ceilândia, Taguatinga, Sudoeste e a Esplanada, o chefe do Executivo cumprimentou moradores, ouviu pedidos para que o comércio volte a funcionar, e defendeu o uso da cloroquina no combate ao coronavírus. O ato gerou críticas e fortes reações em deputados e senadores que fazem oposição ao governo.

O presidente voltou a defender que o comércio reabra nos estados e disse que “todos iremos morrer um dia”, ao avaliar que a doença deve ser combatida sem paralisar a economia. “Essa é uma realidade, o vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Tomos nós iremos morrer um dia. Queremos poupar a vida? Queremos, na parte da economia, o Paulo Guedes tá gastando dezenas de bilhões de reais, que é do Orçamento, que é dinheiro do povo, se bem que nem dinheiro é. Pegamos autorização do Congresso para estourar o teto, que vai ser paga essa conta lá na frente”, disse o presidente.
Em Ceilândia, ele conversou com comerciantes e  tirou foto com admiradores. A presença dele criou aglomeração de pessoas nas ruas, nas praças e no comércio. O presidente disse que cogita editar um decreto para que o comércio volte a funcionar. “Eu estou com vontade, não sei se vou fazer, mas estou com vontade de baixar um decreto amanhã: toda e qualquer profissão legalmente existente, ou aquela voltada para a informalidade, mas que for necessária para o sustento dos seus filhos, para levar o leite para os seus filhos, levar arroz e feijão para a sua casa, vai poder trabalhar”, disse.
Ele afirmou que o confinamento, para evitar que o vírus gere mais danos, prejudica a renda das famílias. “Nós vai (sic) condenar esse cara a ir pra dentro de casa? Ficar dentro de casa, ele não tem poupança, não tem renda. A geladeira dele, se tiver, já acabou a comida, porque tem que trabalhar. Tem que sustentar a família. Tem que cuidar dos seus filhos”, disse o presidente. O presidente alegou que a quarentena, recomendada pelos especialistas e autoridades de saúde, aumenta os casos de violência doméstica. “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? O cara quer trabalhar, meu Deus do céu. É crime trabalhar?”, argumentou.
Questionado, Bolsonaro negou que tenha provocado aglomerações. “Hoje é domingo, tem pouca gente na rua. Agora, eu não marquei nada em lugar nenhum. Foi tudo de forma inopinada”, disse. Entre os gritos de apoio, uma mulher pediu que o isolamento seja ampliado, para profissionais que ainda estão trabalhando. Após circular pelas cidades do DF, o presidente foi ao Hospital das Forças Armadas, onde ficou 15 minutos. Nem o Planalto nem o presidente informaram o motivo da visita. Informações do Correio Braziliense.