PCDF investiga denúncia de “caixinha” para aniversário de Hermeto

Comissionados dizem ter sido coagidos a contribuir. Evento foi cancelado, mas doações não foram devolvidas

JP RODRIGUES/ METRÓPOLES

Documentos entregues à Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil do DF, apontam um suposto esquema de arrecadação de recursos na Administração Regional da Candangolândia para a comemoração do aniversário do deputado distrital Hermeto (MDB). O evento, programado para o mês de novembro de 2019, chegou a ter convites e pulseiras confeccionados, mas foi cancelado. Para a surpresa de todos, o dinheiro não foi devolvido aos funcionários.

De acordo com a denúncia, entre outubro e novembro, uma ordem vinda do gabinete do parlamentar na Câmara Legislativa determinou que os servidores comissionados das regionais da Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Park Way repassassem parte dos salários para custear uma festa privada. Os servidores da Casa também teriam participado da “vaquinha”, que arrecadou em torno de R$ 38 mil.

Os valores cobrados eram proporcionais ao salário de cada servidor. Quem recebia menos, pagou R$ 80, de acordo com a descrição da lista obtida pelo Metrópoles. O administrador regional, José Luiz Gonzalez Rodriguez, conhecido como Zela, com o maior vencimento, teria repassado R$ 500 ao evento.

As cifras seriam dadas para uma servidora lotada na CLDF, que fazia o controle de quem pagou. Depois, ela remetia o montante ao chefe de gabinete, Licérgio Souza.

Entretanto, no dia 3 de novembro, a irmã do deputado Maria Verônicamorre. À época, envolvido em uma polêmica de agressão e ameaça contra a ex-mulher, Hermeto usou o ocorrido para deixar a Comissão Parlamentar de Inquérito do Feminicídio (CPI do Feminicídio). Em função do luto familiar do parlamentar, ele mandou cancelar a festa.

Me dá o meu dinheiro aí

Alguns servidores pediram, então, o ressarcimento, mas foram ignorados. “Ninguém sabe para onde foi esse dinheiro. O que soubemos é que foram quase R$ 38 mil das administrações e do gabinete”, afirmou uma ex-funcionária, que disse ter medo de revelar a identidade.

Por coincidência, alguns dos funcionários que se recusaram a dar dinheiro foram, posteriormente, exonerados.

As acusações foram negadas pelo chefe de gabinete, Licérgio. “Nunca houve esse repasse e muito menos a festa. O deputado nunca quis uma festa e estava de luto por causa da morte da irmã”, defendeu-se.

Em nota, Hermeto negou a acusação de promover caixinha com dinheiro de trabalhadores de órgãos públicos. “O deputado esclarece que nem ele nem qualquer funcionário de seu gabinete promoveram arrecadação para a realização de sua festa de aniversário. No período, o deputado estava de luto devido ao falecimento de sua irmã Maria Verônica de Oliveira e, em função desse momento de tanto sofrimento, dedicava-se à família”, frisa o texto.

Rachadinha

O material foi entregue à Deco na semana passada e faz parte de uma série de denúncias que tem atingido o distrital desde o ano passado. Ainda em novembro, ex-funcionários denunciaram ao Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) a cobrança de “rachadinhas” no gabinete do parlamentar e na administração da Candangoândia.

Pelo menos quatro ex-servidores acusaram o parlamentar de fazer o recolhimento sempre após o dia 20 de cada mês, com valores variando de acordo com os salários das pessoas. Segundo a denúncia entregue ao MPDFT, o chefe de gabinete de Hermeto na Câmara Legislativa (CLDF), Licérgio Souza, mensalmente chamaria os funcionários em uma sala e recolheria o dinheiro. De acordo com os servidores, a verba seria usada para a reforma do escritório de apoio do distrital, que fica na Candangolândia.

A maré ruim do distrital começou no mês anterior. A ex-mulher de Hermeto, Vanusa Lopes, acusou o parlamentar de agressão, violência física e psicológica, com direito a arma na cabeça, segundo ela.

À época, o Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) chegou a decretar medida protetiva contra Hermeto, que precisou se afastar da ex-esposa.