PT deve definir hoje apoio para 2º turno no DF

    Descompasso entre os partidários pode dificultar acordo para a disputa pelo Palácio do Buriti



    Um dia depois de o governador Agnelo Queiroz (PT) protagonizar o primeiro caso de governo petista que não chegou ao segundo turno, o clima foi de velório na Residência Oficial de Águas Claras e nos corredores e gabinetes do Palácio do Buriti. O futuro do PT, que  se enfraqueceu com as eleições, é questionado por partidários e especialistas. Para o segundo turno, a única certeza é que o partido trabalhará para reeleger Dilma Rousseff. Na disputa pelo GDF, a sigla ainda não sabe quem  apoia: Rodrigo Rollemberg (PSB) ou Jofran Frejat (PR). Ou, claro, nenhum deles. 
    Uma reunião da executiva regional e da bancada do PT está marcada para hoje e, deste encontro, pode sair a decisão. “Vai ter reunião. Mas não posso confirmar se vai ter definição”, esquiva-se o  presidente regional do PT, Roberto Policarpo.
    Ocorre que os próprios petistas já sinalizam descompasso desde a campanha eleitoral. E o acordo pode não ser tão simples de acontecer. “O mais provável é que não se decida nada. Nossa prioridade é a  Dilma”, desconversa Policarpo. 
    Única petista brasiliense na Câmara dos Deputados, Erika Kokay não poupa críticas à sigla, depois das derrotas no Buriti, Senado e Câmara dos Deputados: “Sabíamos que a eleição seria dura. As dificuldades  estavam anunciadas e o partido as desconsiderou, não trouxe o cenário para ser  discutido”. 
    Ela acredita que o PT precisa se dedicar a refletir sobre o que chamou de “recado das urnas”.   “O partido tem que se dedicar a  uma reflexão intensa, precisa voltar aos princípios, reencantar a militância, buscar formas de superar”, afirma. 
    Sobre o destino da legenda e a força que ganha seu nome para 2018, Erika  desconversa: “Diria que a nossa preocupação maior é assegurar a discussão interna e fortalecer o partido para bom desempenho em 2018”. 
    Renovação
    O futuro do PT no DF depende de renovação, na opinião do cientista político Paulo Kramer, da UnB: “O retrato que saiu das urnas mostrou que há uma grande demanda por mudança. A recuperação vai depender muito do que o partido  fizer para se renovar. Precisará de novas lideranças”.
     Ele lembra que o PT enfrentou um ciclo de descrédito,  de 1998 até 2010. “A dúvida agora é: o partido terá condições de se renovar para tornar esse ciclo mais curto?”, indaga, considerando que  é  uma pergunta  difícil de se responder. “O PT é um partido onde o centro e a periferia são muito  ligados e eles dependem  um do outro”, considera, para explicar o fracasso conjunto.
    Primeira agenda pública
    Pouco mais de 12 horas depois do resultado das eleições, o governador Agnelo participou da primeira agenda pública: a cerimônia de posse de seis defensores públicos. Em discurso, ele disse que pretende cumprir sua função “com dedicação” até o último dia do mandato. 
    Quando questionado sobre qual posição o PT deve tomar no segundo turno, desconversou: “Vou entregar para aquele que a população vai escolher, de forma soberana e democrática, uma cidade muito melhor do que recebi.” 
    Agnelo Queiroz ressaltou que, nos últimos quatro anos, lutou para fortalecer os principais setores da sociedade e apontou que a pobreza na capital federal diminuiu. “Tenho convicção do compromisso de fortalecimento que fizemos”, finalizou.
    Expectativa frustrada
     
    “Agnelo gerou uma expectativa muito grande na população”, opina o cientista político Ricardo Caldas. Ele considera que o petista foi  tratado “quase como o governador dos sonhos”, por ter assumido o GDF em meio aos respingos da Operação Caixa de Pandora. 
     
    Com o caos na saúde, Agnelo gerou ainda mais esperança por ser médico e por ter prometido assumir, no início do governo, a Secretaria de Saúde, o que não ocorreu, seguindo o raciocínio do especialista. “Ele não teve condições de cumprir”, explica. 
     
    A ampla aliança também enfraqueceu a gestão, na opinião de Caldas. “O governo  foi eleito com uma grande coalizão, mas os partidos foram abandonando o governo”.
     
    Se esperavam um salvador da pátria ou não, fato é que os problemas  nas áreas de saúde, educação e transporte foram maiores que as 5.300 obras, as Carretas da Mulher, as famílias habilitadas  pelo  Morar Bem, a licitação do transporte público, o controverso BRT e outros tantos feitos anunciados. 
     
    Foco maior será na reeleição de Dilma Rousseff
     
    Reconhecendo o “resultado ruim” para o partido,  Roberto Policarpo fala em “derrota eleitoral e política
    ”. Ele também acredita que a “união” do partido explica o fracasso conjunto.
     
    “Quando o governador não cresce junto ao eleitorado, a bancada também não cresce. A campanha dos proporcionais, no PT, é muito ligada aos majoritários”, explica Policarpo, que também não conseguiu se reeleger.
     
    Sobre o futuro do partido, Policarpo diz que o PT no DF está “focado em reeleeger a presidente Dilma Rousseff”. Depois de 26 de outubro, quando ocorrem as eleições de segundo turno, ele diz que o partido fará uma avaliação dos resultados de domingo. “Agora, todo o trabalho será para contribuir com a eleição nacional”, resume.
     
    Para quinta-feira,  à noite, já está prevista uma plenária com a militância, no Teatro Dulcina, para definir estratégias de campanha.
    Fonte: Da redação do Jornal de Brasília