Disputa pela ‘vacina do Butantan’ expõe desmonte da ciência pelo governo Doria
Em disputa política com Bolsonaro, governador paulista se promove com a vacina do Butantan, ao mesmo tempo que aprofunda a política de desmonte e sucateamento do instituto iniciada pelos governos tucanos que o antecederam
Após primeira mulher vacinada no Brasil, Pazuello pede que governadores evitem “jogada de marketing”
Uma mulher, enfermeira, negra e que esteve na linha de frente do combate ao vírus foi escolhida para inaugurar a imunização com a Coronavac, produzida no Brasil pelo Butantan.
Brasil inicia vacinação; enfermeira negra em SP é a primeira vacinada
No Hospital das Clínicas, em São Paulo, começou a vacinação no Brasil. Trata-se de Mônica Calazans, de 54 anos. Ela é mulher, negra e enfermeira do Hospital Emilio Ribas. João Doria, governador de São Paulo, se emocionou e esteve ao lado dela na hora da aplicação.
Ela receberá a CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan, em ato simbólico. Enfermeira do hospital Emílio Ribas, Mônica é integrante do grupo de risco da covid-19, ela é obesa, hipertensa e diabética.
Mônica mora em Itaquera, na zona leste da capital paulista, e trabalha na UTI em dias alternados, em escalas de 12 horas. O setor tem 60 leitos exclusivos para pacientes de Covid-19.
A enfermeira trabalhou como auxiliar de enfermagem por 26 anos e decidiu fazer faculdade numa fase já madura, se formando aos 47 anos.
São Paulo – A negativa de autoridades da Índia, nesta sexta-feira (15) de entregar ao governo brasileiro 2 milhões de doses da vacina fabricada no instituto indiano Serum, parceiro da Universidade de Oxford e da farmacêutica AstraZeneca, acirrou ainda mais a disputa política em torno da CoronaVac. De um lado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de outro, o governador João Doria (PSDB), ambos obcecados pela eleição presidencial de 2022. No centro, a vacina desenvolvida e produzida pelo instituto Butantan, em parceria com a Sinovac.
Segundo o Ministério do Exterior da Índia, o Brasil se precipitou ao mandar um avião buscar o lote de imunizantes, já que os prazos de produção e entrega ainda estão sendo avaliados. Diante do fracasso na empreitada de começar – ao menos simbolicamente – a vacinação antes de Doria, que prometeu iniciar a campanha no estado para o próximo dia 25, o governo Bolsonaro enviou requerimento ao Butantan solicitando entrega imediata das 6 milhões de doses que o instituto já tem prontas para uso.
Num delírio ideológico, a parceria entre o laboratório chinês e a instituição vinculada ao governo do estado de São Paulo, fez a Coronavac virar alvo de críticas e desmoralização por parte de Bolsonaro e seus seguidores desde que foi anunciada, no ano passado. Para desprestigiar a vacina e seu adversário, o presidente chegou a desautorizar publicamente o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que anunciou que o imunizante seria comprado pelo governo federal.
De quem é a vacina?
Pela regra, a vacina é de quem obtém o registro na Anvisa. Com a aprovação, mesmo que emergencial, o Butantan terá mais uma vacina em seu portfólio. Com isso, estaria legitimado o termo “vacina do Butantan” cravado por João Doria em sua propaganda.
Mas os termos assinados com a Sinovac, segundo a CNN, garantem ao laboratório chinês todos os direitos de propriedade intelectual, o que pressupõe cobrança de royalties.