Acredite: queda do viaduto melhorou trânsito

Novo desvio no Eixo após o acidente

Por Rogério Sampaio

Há exatamente um mês, o viaduto que cruzava a Galeria dos Estados desmoronou, trazendo à tona uma enxurrada de revelações, nem tão novas assim, sobre as precaríssimas condições das estruturas viárias suspensas da capital .

O próprio local do acidente, que milagrosamente não produziu vítimas fatais, por se tratar de um local de intenso movimento de carros e pedestres, já havia sido apontado como um ponto de altíssimo risco em relatório produzido por órgãos de fiscalização em 2011.

Quando da queda da estrutura, o GDF montou uma espécie de “gabinete de crise”, envolvendo todos os órgãos técnicos que pudessem apresentar soluções emergenciais para minorar o impacto, principalmente na questão que dizia respeito ao tráfego no coração da capital.

Tal tarefa, por questão jurisdicional coube ao Departamento de Estradas de Rodagem –DER, que se pôs a campo a fim de encontrar uma solução satisfatória e, sobretudo, rápida, como o intuito e evitar um nó na região central.

As primeiras medidas tomadas foram o escoramento da estrutura que ainda tinha ficado de pé, o monitoramento via sensores para medir vibrações e oscilações, a interdição da passagem subterrânea que interligava os setores Bancário e Comercial Sul, uma completa vistorias da estrutura, além do recolhimento de amostras de material que subsidiariam uma decisão posterior, que seria, no caso, a demolição de toda a estrutura seguida de reconstrução, ou uma reforma.

Essa análise ficou a cargo do departamento de Engenharia da Universidade de Brasília.

Em seguida vieram os estudos técnicos visando tornar mínimos os impactos no trânsito da região, que é bastante pesado, no menor espaço de tempo.

A solução encontrada pelo DER-DF foi a construção de duas alças viárias, tanto no sentido Norte, quanto no Sul, que permitissem aos motoristas o acesso aos eixos rodoviários,<à estação rodoviária e à Esplanada dos Ministérios.

Uma vez aprovada a solução emergencial, o prazo entre a construção e entrega da obra foi de uma semana, um prazo satisfatório para os padrões brasileiros.

Satisfação

Paradoxalmente, essa “gambiarra”, pensada para evitar um mal maior, acabou caindo no gosto dos condutores de veículos, pois trouxe embutida em si, o desatamento de um nó viário causado pelo entrecruzamento dos veículos que deixavam, ou acessavam o Buraco do Tatu, em direção ao Eixão, ou ao Eixo W, por exemplo.

Através da colocação de bastões de sinalização, o DER dividiu esse fluxo, direcionando os condutores para o seu destino específico, proporcionando, assim, uma maior fluidez no trânsito da zona central.

Alfredo Nascimento, técnico administrativo e que trabalha no Setor Comercial Sul, foi um dos que aprovou a iniciativa. “Antes, tinha que fazer esse trajeto com um nível de atenção muito alto, além do tempo perdido no engarrafamento que sempre se ocasionava, de forma desordenada no acesso para o setor.

Agora, a situação melhorou consideravelmente. Creio que essa mudança poderia ser incorporada de forma definitiva”, afirmou Nascimento.

Independência técnica

Novo diretor do DER, Márcio Buzar

A solução técnica encontrada pelo DER, de acordo com seu atual diretor, Márcio Buzar, contou com total independência do órgão, livre de quaisquer tipos de pressões ou ingerências. “Buscamos na concepção de construções das alças alcançar três fatores:

Segurança, economicidade e a parte que dizia respeito à celeridade na entrega da obra”, explicou Buzar. O diretor do DER reconhece que a solução encontrada trouxe um certo conforto para os motoristas,  mas descarta que a intervenção venha a se tornar algo permanente. “Isso afrontaria de forma direta o tombamento da cidade, Patrimônio Cultural da Humanidade, e um órgão do governo não pode pleitear algo dessa natureza”, concluiu.

 

Estrutura viária deve ser preservada

 Para a arquiteta e urbanista Tânia Batella, com extenso currículo, inclusive na questão de preservação de monumentos e sítios, a  estrutura viária é um dos pontos essenciais do projeto urbanístico de Lúcio Costa, objeto de Tombamento devendo, portanto, ser preservado como originalmente projetado e construído., como estabelece a legislação pertinente.

“Os desvios executados para a recuperação de parte do viaduto que desabou, recentemente, devem ser admitidos tão somente como situação provisória, temporária, enquanto perdurar a recuperação da estrutura viária original” destaca a especialista.

Para Batella, o perigo, como em todo o DF tem ocorrido, é que o “provisório” permaneça como definitivo, como por exemplo, a fiação aérea que corta significativa parte de Brasília, atravessando o Parque e vários Setores da cidade, afrontando outra recomendação do autor do projeto de Brasília.

“O argumento de que, no caso dos acessos provisórios ao Eixo Rodoviário, de que trazem solução ao trânsito que se acumula naquela região da cidade, vale esclarecer que o responsável por esse excesso de trânsito NÃO ESTÁ NA ESTRUTURA VIÁRIA da cidade, mas na INEXISTÊNCIA DE PLANEJAMENTO REGIONAL, que oriente o desenvolvimento urbano, a oferta de empregos, de habitação, de equipamentos públicos comunitários, fora do Distrito Federal, atendendo assim o objetivo para o qual foi transferida a Capital do país para o planalto central.

Caso contrário, vamos estar sempre dando soluções pontuais a problemas regionais que no lugar de soluções, criam outros problemas de maior gravidade e profundidade, como até hoje ocorreu no DF”, concluiu Tânia Batella

Extraído do Extra Pauta.

Link – http://extrapauta.com.br/acredite-queda-do-viaduto-melhorou-transito/