
Foto: Carlos Moura/Agência Senado
O caso de um menino autista de 9 anos, denunciado por uma mãe de outra aluna após se irritar durante uma gincana escolar em Brasília, gerou forte indignação e mobilização por parte da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal.
Segundo relatos, o garoto, chamado Bernardo, apenas expressou frustração durante a atividade, algo absolutamente comum entre crianças. Mesmo sem qualquer agressão física, a mãe de uma colega procurou a delegacia para registrar um boletim de ocorrência. No dia seguinte, o Conselho Tutelar foi acionado, e Bernardo teve que comparecer à delegacia acompanhado da mãe.
“É inadmissível o que aconteceu. Uma mãe denunciou o coleguinha da filha porque ele, em sua condição especial, apenas ficou bravo durante uma brincadeira escolarm como qualquer criança ficaria. Isso é preconceito”, afirmou Damares.
A senadora, que conhece pessoalmente o menino, fez questão de ressaltar suas qualidades:
“Bernardo é um menino lindo, com altas habilidades, sensível, inteligente, encantador. E, por se contrariar numa simples atividade, foi exposto de forma injusta e constrangedora.”
Segundo Damares, o delegado responsável pelo caso demonstrou sensatez diante da denúncia:
“O delegado olhou para a mãe que fez a queixa e perguntou: ‘A senhora quer mesmo que eu prenda um menino de 9 anos?’”
Para a presidente da CDH, o episódio escancara o capacitismo ainda presente na sociedade brasileira.
“Estamos diante de um discurso de ódio contra crianças com autismo. Precisamos falar sobre isso com urgência. Elas não podem continuar sendo vistas como ameaça. Precisam ser respeitadas, acolhidas e compreendidas.”
Autismo no DF: diagnóstico precoce ainda é desafio
Dados do Mapa do Autismo Brasil (MAB) no Distrito Federal revelam que a faixa etária com o maior número de diagnósticos é a de crianças entre 0 e 4 anos (54,7% da amostra), seguida pela faixa de 5 a 9 anos (32,4%). Ao todo, foram ouvidos 1.699 participantes, entre autistas e responsáveis, de várias regiões administrativas do DF.
A estimativa é que cerca de 60 mil pessoas autistas vivam atualmente no Distrito Federal. O relatório do MAB também aponta que a quantidade de diagnósticos diminui conforme a idade avança, indicando desafios no reconhecimento tardio da condição.
Segundo o neurologista infantil e da adolescência, Hélio Van der Linden, o diagnóstico precoce é fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças e para o apoio adequado às famílias. No entanto, ele alerta que a situação do sistema de saúde brasileiro, especialmente no SUS, pode comprometer o acesso a diagnósticos oportunos e ao tratamento especializado.
Compromisso com a pauta
A senadora Damares Alves reforçou o compromisso da Comissão com a defesa dos direitos das crianças com deficiência e concluiu:
“Vamos continuar usando a tribuna, as redes sociais e todas as ferramentas possíveis para proteger as nossas crianças. Elas merecem espaço, dignidade e uma sociedade que saiba acolher as diferenças.”