Desfile do 7 de Setembro em Brasília completamente esvaziado

Evento marcado por baixa adesão popular e ausência do STF reflete crise política, enquanto manifestações paralelas pela anistia ganham força

O desfile cívico-militar do 7 de Setembro de 2025, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, foi marcado por um público significativamente menor que o esperado, ausência de todos os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e críticas contundentes de setores da oposição, que apontaram o evento como um “vexame histórico”.

Organizado pelo Palácio do Planalto com o mote “Brasil Soberano”, o desfile teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da primeira-dama Janja da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e de ministros como Rui Costa (Casa Civil), Ricardo Lewandowski (Justiça), e Marina Silva (Meio Ambiente). No entanto, as arquibancadas, projetadas para receber 50 mil pessoas, segundo anúncio do governo, apresentaram grandes áreas vazias, conforme imagens divulgadas por veículos de comunicação, que descreveram o cenário como “meia dúzia de gatos pingados” e um “clima de vergonha nacional”.

O governo Lula apostou no desfile para reforçar o discurso de soberania nacional, em resposta às sanções americanas contra o ministro Alexandre de Moraes, impostas pelo Office of Foreign Assets Control (OFAC) sob a Lei Magnitsky, e à sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Donald Trump. A cerimônia, iniciada às 9h, incluiu três eixos temáticos—“Brasil dos Brasileiros”, “COP30 e Novo PAC” e “Brasil do Futuro”—com destaque para bandeiras de 140 m² e 70 m² com a frase “Brasil Soberano”, carregadas por 40 pessoas, além da exibição da Esquadrilha da Fumaça. A presença de estudantes de escolas públicas, militares e servidores foi notável, mas insuficiente para preencher as arquibancadas, reforçando a percepção de um evento esvaziado. O desfile foi um “desperdício de dinheiro público”.

A ausência de todos os ministros do STF, incluindo Luís Roberto Barroso, que estava em viagem oficial à França, e Alexandre de Moraes, alvo de sanções, foi interpretada como um sinal de isolamento político do governo Lula. Em 2024, seis dos 11 ministros do STF compareceram, incluindo Moraes, mas a crise atual, agravada pelo julgamento de Jair Bolsonaro (PL) por suposta tentativa de golpe de Estado, iniciado em 2 de setembro, parece ter aprofundado o distanciamento entre Executivo e Judiciário. Fontes do STF, segundo O Globo, indicam que os ministros estão “apavorados” com a possibilidade de novas sanções americanas, o que pode explicar a ausência coletiva.

O governo promoveu o evento com forte apelo patriótico, utilizando projeções luminosas no Congresso Nacional e no STF, além de bonés com o slogan “Brasil é dos brasileiros”. Lula, em pronunciamento em rede nacional no sábado (6), acusou, sem citar nomes, “traidores da pátria” que estimulam ataques externos ao Brasil, em referência a Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aliados do ex-presidente. No entanto, a estratégia foi criticada como “propaganda enganosa” por opositores, que apontaram a baixa adesão popular como evidência de uma crise de legitimidade.

O desfile foi marcado pela predominância de vermelho, cor associada ao PT, e a ausência de bandeiras do Brasil entre os presentes, sugerindo um evento voltado para militantes petistas.

A oposição, liderada por figuras como o pastor Silas Malafaia e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), organizou manifestações paralelas em ao menos 20 capitais, com foco na anistia aos presos do 8 de janeiro e no impeachment de Alexandre de Moraes.

Em Brasília, bolsonaristas se concentraram na Torre de TV, a 2,5 km da Praça Zumbi dos Palmares, onde ocorreu o “Grito dos Excluídos”, ato de esquerda apoiado pelo PT, CUT e movimentos como MST e MTST. A Polícia Militar e o Comando Militar do Planalto implementaram o “Plano Escudo”, com 4.500 militares, drones, snipers e revistas rigorosas, para evitar confrontos, interditando a Esplanada desde a noite de sábado (6).

Enquanto o desfile oficial enfrentou críticas por baixa adesão, as manifestações da oposição, especialmente em São Paulo, na Avenida Paulista, atraíram maior atenção. Malafaia, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Tarcísio defenderam a anistia, com o governador de São Paulo afirmando que “o perdão é o melhor remédio para pacificar o país”. Em contrapartida, o “Grito dos Excluídos” na Praça da República, em São Paulo, reuniu lideranças como Luiz Marinho (Trabalho) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), com pautas como taxação dos super-ricos e isenção de IR até R$ 5 mil, além de gritos de “sem anistia”.

A polarização foi intensificada pelo julgamento de Bolsonaro no STF, que pode resultar em até 43 anos de prisão por crimes como tentativa de golpe e organização criminosa. Lula, em entrevista ao SBT, afirmou que a anistia seria inconstitucional, reforçando a posição do governo contra o perdão aos envolvidos no 8 de janeiro. O público presente no desfile oficial, estimado em 30 mil pela Agência Brasil, gritava “sem anistia” e “soberania não se negocia”, mas imagens de arquibancadas vazias circularam amplamente, alimentando o discurso da oposição sobre o “fracasso” do evento.

A ausência do STF e o esvaziamento do desfile reforçam a percepção de crise de legitimidade do governo Lula, cuja desaprovação no DF atingiu 59,7%, segundo a Paraná Pesquisas de agosto. A estratégia de usar o 7 de Setembro como vitrine política, com forte apelo à soberania, não conseguiu mobilizar o público esperado, contrastando com a mobilização bolsonarista, que capitaliza a insatisfação com o STF e o governo.

A comparação com “regimes soviéticos” feita por críticos, reflete a narrativa de que o governo depende de encenação para sustentar sua imagem, enquanto as manifestações pela anistia, lideradas por nomes como Tarcísio e Malafaia, buscam mostrar maior apoio popular.

O desfile de 2025, longe de ser a “maior festa cívica do Brasil”, evidenciou as divisões políticas do país. Enquanto Lula busca recuperar o simbolismo patriótico, a oposição, mesmo sem Bolsonaro presente devido à prisão domiciliar, mantém as ruas como palco de resistência, com a anistia e o impeachment de Moraes como bandeiras centrais.

Fonte: Portal do Callado