Brasil perde para Bolívia, encerra Eliminatórias com pior campanha da história e aumenta pressão sobre Ancelotti

 Rafael Ribeiro/CBF
 Rafael Ribeiro/CBF

Derrota em El Alto expõe fragilidade da seleção brasileira, que terminou em quinto lugar com 28 pontos e chega à Copa do Mundo sob desconfiança

O Brasil chegou ao fim das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026 com um resultado histórico negativo. A derrota por 1 a 0 para a Bolívia, nesta última terça-feira (9), na altitude de 4.100 metros de El Alto, não apenas simbolizou as dificuldades enfrentadas pela seleção brasileira, mas também consolidou a pior campanha brasileira desde que o torneio passou a ser disputado em formato de pontos corridos.

Com 28 pontos conquistados em 18 jogos, o time terminou na quinta colocação, com oito vitórias, quatro empates e seis derrotas. O aproveitamento de 51% contrasta com a tradição de um país que, até esta edição, nunca havia encerrado as Eliminatórias com menos de 30 pontos.

Altitude pesa, mas problemas são maiores

O técnico Carlo Ancelotti tentou preparar a equipe para as condições extremas de El Alto, mas a estratégia de cadenciar o jogo não funcionou. A Bolívia, empurrada pela torcida e motivada pela possibilidade de disputar a repescagem, aproveitou a intensidade e buscou constantemente o ataque.

O lance decisivo veio ainda no primeiro tempo, quando o VAR indicou pênalti de Bruno Guimarães sobre o lateral Roberto. O jovem Miguelito, revelado pelo Santos e atualmente no América-MG, converteu a cobrança e garantiu a vitória. No segundo tempo, mesmo com as entradas de Estêvão, Raphinha e João Pedro, a seleção brasileira não conseguiu transformar posse de bola em chances reais de gol.

Os números refletem a dificuldade: foram apenas dez finalizações brasileiras contra 23 da Bolívia, além de três chutes no alvo contra nove dos adversários.

Campanha irregular preocupa

A oscilação não se restringe ao jogo derradeiro. Ao longo das Eliminatórias, o Brasil acumulou derrotas marcantes, como a goleada de 4 a 1 sofrida diante da Argentina, em março, e tropeços inéditos em casa. A instabilidade se acentuou com a troca constante de treinadores: Fernando Diniz iniciou o ciclo, Dorival Júnior assumiu em meio ao processo e Carlo Ancelotti chegou na reta final.

Essa alternância prejudicou a construção de uma identidade clara e afetou o desempenho coletivo. A quinta colocação, embora garanta vaga direta graças ao aumento de participantes no Mundial, seria suficiente apenas para repescagem no formato antigo.

Bolívia festeja, Brasil alerta

Enquanto a Bolívia celebrou a classificação à repescagem com lágrimas e festa no Estádio Municipal de El Alto, o Brasil deixou o gramado sob questionamentos. Para os torcedores bolivianos, o triunfo representou a chance de voltar a disputar uma Copa após 32 anos. Já para a seleção brasileira, a derrota reforçou o clima de desconfiança que envolve o ciclo atual.

Com apenas nove meses até a abertura da Copa do Mundo, a pressão sobre Ancelotti aumenta. O treinador terá três janelas de convocação e amistosos importantes na Ásia, contra Coreia do Sul e Japão, para ajustar o time e recuperar a confiança da torcida.

Histórico de campanhas

Desde 1996, quando o formato atual foi adotado, o Brasil sempre superou a marca dos 30 pontos. Mesmo em 2002, quando passou por dificuldades e terminou em terceiro lugar, o time conseguiu se recuperar e conquistou o pentacampeonato no Mundial da Coreia do Sul e do Japão.

Agora, a comparação se torna inevitável: embora a classificação esteja assegurada, a seleção chega ao torneio sob a sombra de uma campanha marcada pela instabilidade e pela falta de protagonismo.

Desafios até o Mundial

O Brasil será cabeça de chave no sorteio da Copa de 2026 por estar entre os nove primeiros no ranking da FIFA, mas o status pouco alivia a pressão. Para além das condições da altitude boliviana, os números e a irregularidade expõem fragilidades que precisam ser corrigidas com urgência.

Se a derrota em El Alto pode ser atribuída às circunstâncias, a trajetória nas Eliminatórias deixa claro que o desafio do Brasil vai além: é preciso recuperar a consistência, ajustar a equipe e, sobretudo, reconquistar a confiança do torcedor antes de embarcar para o Mundial.