STF: Fux pedirá revisão da pena da mulher que pichou estátua

Luiz Fux foto reprodução do you tube
Luiz Fux foto reprodução do you tube

“Em determinadas ocasiões me deparo com uma pena exacerbada”, disse o ministro

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux informou, nesta quarta-feira (26), que vai revisar a pena de 14 anos de prisão que está para ser imposta a Débora Rodrigues, mulher que pichou com um batom a estátua A Justiça com a frase “perdeu, mané” durante os atos do 8 de janeiro. O magistrado afirmou que, em algumas ocasiões, ele tem se deparado com uma “pena exacerbada”.

A fala ocorreu durante o julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suposta tentativa de golpe. Ao proferir o seu voto favorável ao recebimento da denúncia, ele fez uma digressão e comentou o caso Débora.

– Aqui o ministro Alexandre de Moraes citou um caso que eu pedi vista recentemente, do caso do batom. Eu tenho, e aqui eu falo aos integrantes da minha turma, que nós temos toda a liberdade e respeito à independência de opinião de todos os colegas… que eu vou fazer uma revisão dessa dosimetria – anunciou o magistrado.

Na sequência, Fux afirma que a dosimetria (cálculo para determinar a pena a ser aplicada a um condenado) “é inaugurada pelo legislador, e a fixação da pena é do magistrado”, que o faz “à luz da sua sensibilidade”.

– O magistrado o faz à luz do seu sentimento, em relação a cada caso concreto. E o ministro Alexandre, por seu trabalho, explicitou a conduta de cada uma das pessoas. E eu confesso que em determinadas ocasiões me deparo com uma pena exacerbada. E foi por essa razão, ministro Alexandre, dando uma satisfação para vossa excelência, que eu pedi vista do caso. Eu quero analisar o contexto em que essa senhora se encontrava – disse Fux.

Ele continuou afirmando que os juízes “têm sempre de refletir os erros e acertos”.

– Eu acho que os juízes, na sua vida, têm sempre de refletir os erros e acertos. Até porque, como o ministro Dino de uma forma mais lúdica destacou, os erros autenticam a nossa humanidade. De baixo da toga, bate o coração de um homem. Então, é preciso que nós tenhamos essa capacidade de refletir – acrescentou.

Moraes, por sua vez, respondeu que o ministro poderá trazer “uma discussão importantíssima para a Turma”, mas fez questão de salienta que acha “um absurdo” comparar a pichação da estátua nos atos do 8 de janeiro com o vandalismo de um muro.

– É um absurdo as pessoas quererem comparar aquela conduta de uma ré que estava há muito tempo dentro dos quartéis, pedindo intervenção militar, que invadiu junto com toda a turba, e além disso praticou esse dano qualificado, com uma pichação de um muro. As pessoas não podem esquecer. Relativizar – avaliou Moraes.

Débora responde pelos crimes de associação criminosa armada, tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de bem tombado.

Até o momento, votaram Moraes e Flávio Dino, que seguiu o parecer do relator. Moraes defende pena de 14 anos de prisão em regime fechado e multa de R$ 30 milhões por danos morais coletivos. Os ministros Cristiano Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia ainda não votaram. Os cinco magistrados compõem a Primeira Turma da Corte.