O humorista e influenciador Whindersson Nunes reagiu nesta segunda-feira à publicação de uma reportagem da coluna sobre o contrato de R$ 11 milhões de uma empresa dele com o governo do Piauí.
“A papuda me espera”, escreveu ele numa postagem na rede social X (antigo Twitter). A referência é a um antigo vídeo viral do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Tem que prender, eu moro em Barueri, sejam rápidos eu não aguento mais”, disse em outro post na rede social X (antigo Twitter).
Como mostrou a reportagem, a empresa Tron Atividades de Apoio à Educação tem um contrato de R$ 11 milhões com o governo do Estado para oferecer cursos de robótica nas escolas estaduais.
A empresa de Whindersson se chama Tron Atividades de Apoio à Educação Ltda, e visa o fornecimento de materiais e treinamento para o ensino de robótica na rede pública piauiense.
Uma representação aceita pelo Tribunal de Contas do Estado do Piauí em fevereiro deste ano questiona o fato do contrato ter sido feito por meio de uma dispensa de licitação, já que existem outras empresas no Brasil aptas a oferecer o mesmo serviço. Em fevereiro, o conselheiro Kleber
O contrato é de 19 de agosto passado, e foi firmado sem licitação. O valor original do contrato era de R$ 4,99 milhões, mas foi aditado e está atualmente em R$ 11 milhões.
As informações sobre a representação no TCE-PI foram reveladas pelo jornalista José Ribas Neto, de Teresina (PI), e confirmadas pela coluna.
Whindersson Nunes e a Secretaria de Educação do Piauí foram procurados no começo da tarde desta segunda-feira (15/9), mas ainda não houve resposta. A reportagem será atualizada com as manifestações assim que forem enviadas.
Em dezembro deste ano, a Secretaria de Educação do Piauí realizou um evento para comemorar “os avanços no ensino de robótica” na rede estadual. Inicialmente, o contrato previa a entrega de 15 mil kits, além da certificação de professores.
TCE analisa possível favorecimento à firma de Whindersson
De acordo com a representação, a Secretaria de Educação do Piauí teria favorecido indevidamente a empresa de Whindersson Nunes ao firmar o contrato sem fazer licitação, uma vez que existem outras empresas aptas a fornecer o mesmo serviço.
“O próprio Estudo Técnico Preliminar (ETP) elaborado pela SEDUC-PI reconhece a existência de outras empresas qualificadas para prestar o mesmo serviço, evidenciando que havia possibilidade de concorrência”, diz um trecho do relatório do TCE-PI sobre a representação.
“A SEDUC favoreceu indevidamente a TRON ao justificar a contratação direta com argumentos supervalorizados sobre sua qualificação técnica, sem permitir que outras empresas apresentassem propostas”, diz o documento.
Defesa: Whindersson é ligado à matriz, e não à empresa no Piauí
Após a publicação da reportagem, a coluna foi procurada pela assessoria jurídica de Whindersson Nunes. Segundo os profissionais, Whindersson está ligado à matriz da Tron, e não tem relação com a firma do Piauí, que foi quem ganhou o contrato com o governo do Estado, embora ambas tenham o mesmo dono.
Whindersson atua como embaixador da empresa, num modelo conhecido como “media for equity”, em que o influenciador troca a divulgação por uma participação na empresa. A matriz licencia o método educacional proprietário da empresa para outras firmas.
A firma piauiense é uma dessas licenciadas, dizem os advogados. No entanto, ambas têm um mesmo dono, Gildário Dias Lima. Em publicação recente no LinkedIn, Whindersson se refere a Gildário como “sócio”.
O mesmo termo é usado pelo governador do Piauí, Rafael Fonteles, para se referir a Whindersson numa publicação sobre a parceria com a Tron. Segundo os advogados, Whindersson cometeu uma impropriedade ao chamar Gildário de sócio.
A defesa disse ainda que a empresa do Piauí ainda não foi notificada sobre a apuração no TCE, e está à disposição para prestar todos os esclarecimentos. “Reiteramos nosso compromisso inarredável com a legalidade, a transparência e a boa-fé objetiva”, diz a nota.
Leia abaixo a íntegra da nota enviada pela defesa:
“Em atenção às recentes publicações e visando preservar a exatidão dos fatos, esclarecemos que o Sr. Whindersson Nunes atua exclusivamente como embaixador institucional do Método TRON, limitando-se à promoção e divulgação de seus benefícios. Os direitos patrimoniais e intelectuais do referido método pertencem à TRON S.A., pessoa jurídica distinta e autônoma, que não possui contratos com o Poder Público.
A empresa mencionada em notícias sobre supostas investigações é a TRON ATIVIDADES DE APOIO À EDUCAÇÃO, inscrita no CNPJ nº 27.567.990/0001-09. O Sr. Whindersson Nunes não possui qualquer participação societária, ingerência administrativa, gerencial ou deliberativa, conforme documento em anexo.
A exploração comercial do Método TRON ocorre mediante contratos formais e regularmente celebrados com distribuidoras parceiras, que atuam em estrita observância à legislação vigente, à regularidade fiscal e às melhores práticas de governança e transparência. O contrato mencionado foi firmado com uma distribuidora licenciada do método, a qual, uma vez indagada, informou não ter recebido notificação formal acerca de eventual denúncia e assegurou que permanece à disposição das autoridades para apresentar todos os esclarecimentos necessários e comprovar a regularidade do ajuste celebrado.
Reiteramos nosso compromisso inarredável com a legalidade, a transparência e a boa-fé objetiva, bem como nossa plena disposição para prestar todos os esclarecimentos cabíveis às autoridades competentes e ao público em geral”.
Fonte: Metrópoles