Moscou já bloqueou diversos sites de mídias ocidentais, como BBC, Die Welt, RFI, Deutsche Welle, e redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram.
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Moscou prometeu nesta quarta-feira (27) dificultar o “trabalho da mídia ocidental” em seu território, em retaliação à confirmação pela Justiça europeia da suspensão do canal de notícias russo RT France, decidida pela União Europeia após a invasão da Ucrânia.
“Vamos tomar medidas de pressão semelhantes visando a mídia ocidental que trabalha em nosso país”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov a repórteres após a publicação da decisão judicial da União Europeia, julgando legal a proibição de difusão da RT France.
“Também não vamos deixá-los trabalhar em nosso país”, acrescentou Peskov. Esses meios de comunicação não devem esperar “nenhuma flexibilidade” das autoridades russas, alertou, denunciando um “ataque à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa nos países europeus, inclusive na França”.
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante reunião em Moscou no dia 9 de maio de 2022 — Foto: Mikhail Metzel/Pool via Reuters
Desde o início da guerra, em 24 de fevereiro, Moscou já bloqueou diversos sites de mídias ocidentais (BBC, Die Welt, RFI, Deutsche Welle…) e redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram. Em maio, a Rússia fechou o escritório da rádio e televisão canadense CBC/Radio-Canadá depois que a RT foi proibida de transmitir no país.
Ao mesmo tempo, a mídia canadense suspendeu ou interrompeu suas operações na Rússia por medo de represálias. Há leis no país que punem, com penas de prisão, a divulgação de informações supostamente falsas sobre o Exército russo.
Sputnik
O tribunal da União Europeia alega que a “proibição temporária” da radiodifusão “não questiona” o conceito de liberdade de expressão, ao contrário do que afirma a mídia estatal russa. A RT France anunciou que vai entrar com um recurso contra a decisão.
“A confirmação pelo tribunal desta proibição geral e do prazo indeterminado mostram, infelizmente, que o poder judicial da União Europeia não pode ou não quer se opor ao poder político”, reagiu Xenia Fedorova, presidente da RT France, em comunicado.
Acusados de serem instrumentos de “desinformação” pelo Kremlin, os meios de comunicação Sputnik e RT (incluindo sua versão em francês RT France) foram proibidos de transmitir na União Europeia em 2 de março, na televisão e na internet, após um acordo entre os 27 Estados-membros, logo após o início da guerra.
Rússia: a lua cheia enquadrada entre as torres de um prédio na Praça Vermelha, no centro de Moscou neste domingo, 15 — Foto: Kirill Kud
A situação francesa é específica porque, desde a suspensão da RT na Alemanha, no final de 2021, a França foi o único Estado-membro da União Europeia a ter uma filial da mídia russa em seu território.
Propaganda militar
Em seu julgamento, nesta quarta-feira, o tribunal considerou que “as limitações à liberdade de expressão da RT France são proporcionais”, a União Europeia procura evitar “propaganda” em favor da “agressão militar da Ucrânia” na televisão e na internet por uma mídia inteiramente financiada pelo Estado russo”. Estas medidas, “desde que sejam temporárias e reversíveis, não afetam o conteúdo essencial da liberdade de empresa da RT France”.
“Apesar dessa censura, a RT France continuará trazendo diferentes perspectivas sobre as notícias de onde quer que sejam transmitidas”, assegurou sua presidente.
O canal de notícias, que emprega 131 pessoas, continua transmitindo em francês e publicando artigos em seu site, que ainda é acessível por VPN (Virtual Private Network). A rede privada virtual é um recurso utilizado por algumas empresas para conectar funcionários à longa distância. O serviço permite navegar na web sem que o IP de acesso seja identificado, protegendo os dados e impedindo ciberataques.
A transmissão da RT France, propriedade de uma associação financiada por Moscou, ANO-TV Novosti, e sua liberdade de expressão estão sob o controle do órgão regulador audiovisual francês (Arcom, na sigla em francês), segundo seu advogado, Emmanuel Piwnica, também citado no comunicado divulgado para a imprensa.
Mas o tribunal julga que isso não diminui as competências do Conselho, órgão representativo dos 27 países-membros da União Europeia, que pode tomar medidas para “reagir à grave ameaça à paz nas fronteiras da Europa e à violação dos direitos da lei internacional”.
Na França, a agência de notícias Sputnik News entrou em processo de liquidação em maio e seus 27 funcionários foram demitidos no processo.
Influência russa na África
A decisão da Justiça europeia acontece um dia após as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a preocupação do Palácio do Eliseu em relação à influência russa no continente africano, durante sua visita à República dos Camarões.
“A Rússia completou sua oferta diplomática com a intervenção das milícias Wagner. Em particular, o que vimos florescer nos últimos anos na República Centro-Africana e no Mali, para citar apenas dois casos, é muito preocupante, porque não são formas clássicas de cooperação”, declarou o chefe de Estado francês aos enviados especiais da RFI Amélie Tulet e Boris Vichith.
“Nesse momento, é a Rússia que escolhe, por intermédio de milícias, apoiar tanto os poderes políticos enfraquecidos que decidem não administrar seus problemas de maneira política, mas militarizá-los, ou as juntas militares que não têm nenhuma legitimidade política, para lhes dizer trazemos segurança e proteção para vocês, não para o seu povo, para vocês, em troca da influência russa e da captura de matérias-primas, com abusos muitas vezes documentados pela Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas e todas as missões ali implantadas. Isso é o que está acontecendo”, continuou Macron.
Em resposta às declarações do presidente francês, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, também em visita à África, garantiu que seu país “aumentaria significativamente” seu papel no continente.
Emmanuel Macron quer fazer da África uma das prioridades do seu segundo mandato de cinco anos, face à concorrência da China e da Rússia, mas apostando no “soft power” e não na política ou nas Forças Armadas, as ferramentas tradicionais de influência da França.
Fonte:G1