Contrariando Gilmar Mendes Juiz manda prender novamente Beto Richa

Semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes concedeu um salvo-conduto para impedir a prisão do ex-governador, mas a medida se aplica apenas às investigações relacionadas à Lava Jato.

No ano passado, Gilmar Mendes também concedeu outro salvo-conduto para Richa, referente às investigações da Operação Rádio Patrulha…

Ex-governador do Paraná, Beto Richa volta a ser preso

Tucano foi detido pela terceira vez nesta terça-feira (19), agora em operação que investiga desvio de dinheiro que devia ser usado na construção de escolas. Defesa afirma que prisão não tem fundamento.

Por Diego Ribeiro, Thais Kaniak e Pedro Brodbeck, RPC Curitiba e G1 PR

19/03/2019 07h05  Atualizado há uma hora


Ex-governador do Paraná, Beto Richa volta a ser preso.

Uma das justificativas apresentadas pela Justiça para decretar a prisão de Beto Richa é que o ex-governador, segundo o Ministério Público, atuou para “obstruir as investigações em face da organização criminosa que supostamente integrava”.

Segundo o coordenador do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Leonir Batisti, a obstrução das investigações aconteceu entre 2015 e 2017.

Segundo MP, Beto Richa determinou que o ex-diretor da Secretaria de Educação do Paraná, Maurício Fanini, “excluísse de todo e qualquer dispositivo eletrônico que possuísse os registros de fotos, vídeos e comunicações entre ambos” em março de 2015.

Defesa de Beto Richa afirma que prisão não tem fundamento. — Foto: J.F.Diorio/Estadão Conteúdo
Defesa de Beto Richa afirma que prisão não tem fundamento. — Foto: J.F.Diorio/Estadão Conteúdo

De acordo com o Ministério Público, Fanini era o responsável pelo setor que produzia relatórios fraudulentos sobre obras em escolas estaduais. O ex-diretor da secretaria é delator na Quadro Negro.

A decisão aponta que Richa “providenciou uma remuneração mensal a Maurício Jandoi Fanini Antonio em troca do seu silêncio, que passou a ser paga pelo investigado Jorge Theodócio Atherino a partir do mês de novembro de 2015”.

“Ao investigado Carlos Alberto Richa é imputada a prática dos delitos de organização criminosa (pena máxima de 8 anos), corrupção passiva (pena máxima de 12 anos), fraude à licitação (pena máxima de 4 anos) e obstrução de investigação de organização criminosa (pena máxima de 8 anos)”, afirma o juiz na decisão que determinou a prisão.

O empresário Jorge Atherino, apontado pelo MP-PR como operador financeiro de Beto Richa, e Ezequias Moreira, ex-secretário especial de Cerimonial e Relações Exteriores do Paraná, também foram presos.

Ezequias foi citado na colaboração premiada do empresário Eduardo Lopes de Souza. A delação afirma que o ex-secretário participou da arrecadação de dinheiro desviado da reforma e construção de escolas para a campanha de reeleição de Beto Richa para o governo do estado.

No despacho, o juiz determina que as prisões preventivas dos três investigados sejam cumpridas no Complexo Médico Penal do Paraná, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. O Gaeco informou que a transferência deve acontecer até o começo da tarde desta terça-feira.

A defesa de Jorge Atherino afirmou que não vai se manifestar no momento. A defesa de Ezequias Moreira informou que se manifestará nos autos do processo

A investigação é tocada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Além das prisões, são cumpridos mandados de busca e apreensão em imóveis da família Richa em Caiobá, no litoral do Paraná, e em Porto Belo (SC).

Na quarta-feira (13) o Gaeco ofereceu denúncia contra os investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Até o momento, não se sabe se a Justiça aceitou a denúncia.

Beto Richa é preso pela terceira vez

Salvo-conduto

Na semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes concedeu um salvo-conduto para impedir a prisão do ex-governador, mas a medida se aplica apenas às investigações relacionadas à Lava Jato.

No ano passado, Gilmar Mendes também concedeu outro salvo-conduto para Richa, referente às investigações da Operação Rádio Patrulha, que investiga um esquema de propina para desvio de dinheiro por meio de licitações em um programa de recuperação de estradas rurais do estado.

Outras prisões

A última prisão de Beto Richa foi em janeiro, na 58ª fase da Operação Lava Jato. A investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) apurou supostos crimes na concessão de rodovias do Paraná.

Uma semana depois, o ex-governador foi solto, com decisão do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha.

Já a primeira prisão foi em setembro do ano passado, também pelo Gaeco, na Operação Rádio Patrulha A investigação do Gaeco era sobre o programa do governo estadual Patrulha do Campo, que faz a manutenção das estradas rurais.

Naquela vez, Beto Richa foi solto depois de uma decisão de Gilmar Mendes, concedida três dias após o tucano ter sido preso.

Operação Quadro Negro

A Operação Quadro Negro encontrou indícios de desvios de dinheiro na construção de diversas escolas estaduais. Segundo as investigações, a Construtora Valor recebeu cerca de R$ 20 milhões pelos contratos firmados com o poder público, mas não entregou as obras.

Conforme o MP-PR um setor da Secretaria de Educação produzia relatórios fraudulentos sobre obras em escolas estaduais. Os relatórios informavam que as obras estavam em andamento adiantado, entretanto, em muitos casos, mal haviam saído do papel.

Com a fraude, a construtora Valor, recebia o valor pelos contratos sem que as obras fossem feitas ou concluídas. Eduardo Lopes, dono da construtora, é delator na operação. Eduardo Lopes contou como funcionava o esquema de desvios, revelando nomes de políticos que, segundo ele, se beneficiaram com o esquema.

Em delação, o ex-diretor da Secretaria de Educação, Maurício Fanini, afirmou que o dinheiro de propina pago pelo esquema abasteceu as campanhas de Beto Richa para a Prefeitura de Curitiba e para o Governo do Paraná, entre 2002 e 2015.

Fanini afirmou também que o dinheiro fraudulento custeou gastos pessoais do ex-governador, como viagens e a compra de um apartamento.