Crescem despesas com cota parlamentar na Câmara dos Deputados

 

No primeiro semestre, os oito deputados do DF destinaram R$ 1,3 milhão a gastos como consultorias, divulgação de mandato, locação de automóveis e combustível. O montante é 18% mais alto do que o registrado no mesmo período de 2016.
Por ANA VIRIATO-Correio Braziliense – 17/07/2017 – 07:07:37

Em anos pré-eleitorais, a massiva divulgação sobre feitos políticos e o incremento da comunicação com o eleitorado são essenciais aos deputados — afinal, é hora de preparar o campo para disputar a reeleição ou cargos majoritários. Pensando nisso, os parlamentares têm investido pesado na própria imagem.

 

Apesar de serem apenas oito os representantes do Distrito Federal na Câmara dos Deputados, o gasto da verba indenizatória é alto. No primeiro semestre do ano, os parlamentares gastaram R$ 1.303.587,03 — a cifra subiu cerca de R$ 200 mil, em relação aos gastos durante os seis primeiros meses de 2016. Representa um acréscimo de 18% no total. As maiores despesas referem-se à divulgação das atividades (R$ 596.497,98); à contratação de consultorias (R$ 372.355,06); à locação de automóveis (R$ 135,7 mil); e à compra de combustível (R$ 80,8 mil).

 

O deputado Alberto Fraga (DEM/DF) encabeça a lista dos mais gastadores. As despesas dele atingiram R$ 218,2 mil; média de R$ 36,3 mil ao mês. A maior rubrica do democrata deu-se com a autopromoção, em um total de R$ 176,6 mil. Houve investimentos na manutenção do site, na criação de peças publicitárias, na finalização de materiais informativos e na publicação de vídeos em redes sociais. O parlamentar também teve à disposição, por quatro meses, um carro Elantra, pelo custo mensal de R$ 4,8 mil.

 

Por meio de vídeos, divulgados nas redes sociais, Fraga, por exemplo, rebateu notícias relacionadas à denúncia que ele responde no Supremo Tribunal Federal, por supostamente ter cobrado propina de cooperativas de transporte quando era secretário da área. “Meus amigos, como vocês sabem, meu nome não está na JBS, na Odebrecht e em nenhum escândalo político nacional. Agora, meus adversários que sabem que meu nome está competitivo para disputar a legenda do Buriti ficam requentando notícias de 15 anos atrás”, afirmou.

 

Fraga também usou as redes sociais para comemorar a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, decretada pelo juiz Sérgio Moro.

 

Líder da bancada da bala, Fraga se coloca como provável candidato ao Palácio do Buriti ao Senado.

 

Segundo no ranking, Izalci Lucas (PSDB/DF) destinou a maior parte dos recursos — R$ 123,1 mil — à contratação de consultorias jurídicas, para a elaboração de projetos, e de marketing e publicidade. A segunda maior despesa do pré-candidato ao Palácio do Buriti foi com divulgação da atividade parlamentar, em um total de R$ 68.996,80. Todos os gastos do tucano atingem R$ 215,5 mil.

 

Entre os temas que ele mais tratou, está a participação como presidente da comissão mista que discutiu a MP 759/16, relacionada à regularização fundiária em todo o país, com impacto na questão dos condomínios do Distrito Federal. Izalci trabalha muito para se consolidar como o candidato tucano ao GDF. Nas redes sociais, ele tem divulgado também o contato com políticos do PSDB que podem ajudá-lo nesse objetivo, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, João Doria.

 

O deputado Laerte Bessa (PR) é o terceiro da lista, com R$ 208,9 mil. Do montante, R$ 77 mil destinaram-se à divulgação do cotidiano parlamentar em veículos de comunicação e em mídias sociais. O deputado ainda gastou R$ 60 mil na locação de dois veículos — um Voyage e uma Land Rover.

 

No primeiro semestre do ano passado, como agora, Laerte Bessa foi quem mais registrou despesas com aluguel de carro. À época, ele gastou R$ 46,7 mil. De janeiro a maio, ele alugou dois veículos todos os meses. Além de pagar pelo uso de uma caminhonete Amarok, ele alugou ainda um Land Rover Discovery, um Jetta, um Voyage e um Fiat Línea alternadamente.

 

Entre os temas mais abordados por Bessa no mandato, está a defesa das reivindicações salariais de policiais civis, sua base eleitoral, e os gastos do Fundo Constitucional do DF.

 

O deputado Roney Nemer (PP) aparece em quarto lugar, na lista dos maiores gastos (R$ 167.351,92). Em seguida, está Augusto Carvalho (SD), com R$ 148.713,46. Ronaldo Fonseca (Pros) destinou R$ 128.562,60. Rogério Rosso (PSD) é o penúltimo do ranking, com R$ 126.516,30.

 

Dos oito deputados que integram a bancada do DF, Érika Kokay (PT) foi a que menos usou recursos da cota parlamentar. A petista destinou R$ 89.707,98, principalmente a consultorias (R$ 42.160,00), divulgação de mandato (R$ 26.838,10) e combustível (R$ 14.208,03). Ela é atuante nas redes sociais, principalmente em temas como direitos humanos e ataques ao presidente Michel Temer.

 

As bancadas das 27 unidades da Federação têm valores diferenciados para o teto da cota, principalmente por conta dos preços das passagens aéreas. Os deputados do Distrito Federal podem gastar mensalmente R$ 30.788,66. Com esse valor, eles podem comprar bilhetes aéreos, pagar contas de telefone e de restaurantes, serviços postais, gasolina e serviço de segurança. Os parlamentares ainda podem usar esses recursos para alugar escritórios de apoio, contratar consultorias e participar de cursos e palestras.

 

Contraponto

 

Primeiro no ranking de gastos, Alberto Fraga declarou que o subsídio é gasto “com a prestação de contas para a sociedade”. “Faço a divulgação de nossos feitos, da agenda, do que está em trâmite. É importante que exista essa comunicação entre deputado e eleitor. Além disso, gastei apenas o valor previsto em lei”, apontou.

 

O tucano Izalci Lucas justificou os gastos com a produção na Câmara Federal — o parlamentar participa de cinco comissões permanentes e integrou outras duas especiais. “Quem trabalha muito gasta muito. Ser vice-líder do PSDB na Câmara e estar presente em variados colegiados demanda uma assessoria técnica especializada. É preciso medir o custo-benefício”, argumentou.

 

Laerte Bessa destacou que o uso da verba indenizatória está dentro dos parâmetros legais. “Os maiores gastos são com o aluguel de carros que garantem a atividade parlamentar e com a divulgação do cotidiano da Câmara dos Deputados, algo necessário ao eleitorado”, pontuou.