Acidentes com motocicletas são responsáveis por 80% das mortes no trânsito em 2017

    Conforme a EPTC, dos 20 mortos nas vias da Capital no primeiro trimestre, 12 eram condutores ou caroneiros, e quatro foram atropelados

    Por: Marcelo Monteiro
    19/03/2017 – 21h10min | Atualizada em 20/03/2017 – 16h37min
    Acidentes com motocicletas são responsáveis por 80% das mortes no trânsito de Porto Alegre em 2017 Carlos Macedo/Agencia RBS

    Cerca de 12% da frota de Porto Alegre é formada por motosFoto: Carlos Macedo / Agencia RBS

    O veículo mais ágil de deslocamento no trânsito das metrópoles está se tornando também o mais arriscado. Segundo dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), dos 20 mortos em acidentes nas vias de Porto Alegre nos primeiros 74 dias do ano (até 15 de março), 12 eram motociclistas — condutores ou caroneiros (seis a cada 10 vítimas fatais).

    Além de tirar a vida dos próprios ocupantes, as motocicletas também estiveram envolvidas na morte de outras quatro pessoas — dois terços do total de vítimas de atropelamentos fatais registrados neste ano na Capital. Incluindo na conta as mortes por atropelamento, o percentual de vítimas fatais em acidentes envolvendo motos sobe para 80% do total.

    — O motociclista é o condutor mais vulnerável. E, em 95% dos casos, os acidentes são infrações que deram errado — afirma Carla Meinecke, diretora técnica de Operações da EPTC, que elenca entre as transgressões mais comuns e fatais o excesso de velocidade, a passagem no sinal vermelho, o consumo de álcool combinado à direção e a mudança de pista sem sinalização.

    Conforme a EPTC, dos 18 acidentes que resultaram em óbitos neste ano, 14 (77,8%) tiveram o envolvimento de motos. Por isso, diz o diretor de Operações da EPTC, Fábio Juliano, o órgão decidiu promover em abril uma campanha de conscientização e educação dos usuários de motocicletas.

    No total, serão realizadas 40 blitze específicas para motos, em todos os turnos (inclusive a madrugada). Segundo o gerente de fiscalização da EPTC, Alvino da Silva Filho, paralelamente, ocorrerão operações-radar para flagrar motocicletas acima da velocidade permitida. As ações educativas incluem conferências em empresas de motoboys, curso de direção defensiva (à distância) e quatro palestras Motociclista Consciente, a serem realizadas às quartas-feiras, sempre em parceria com o Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Estado (Sindimoto).

    — Está se iniciando hoje uma nova era para o motociclista de Porto Alegre — promete Valter Ferreira, presidente da entidade, que hoje reúne mais de 13 mil filiados. — Esta não vai ser uma campanha paliativa. A gente vai continuar. Não há como conscientizar mais de 90 mil motociclistas em apenas um mês.

    Investigação de causas se estende por um mês

    Atualmente, circulam pela Capital 93,6 mil motocicletas, o equivalente a 11,3% da frota porto-alegrense. No Estado, o total de motos registradas chega a 1,13 milhão (17,6% do total). De acordo com Diva Yara Leite, coordenadora do Comitê de Análise de Acidentes do Projeto Vida no Trânsito (parceria da EPTC com a Secretaria Municipal de Saúde), os atropelamentos por motos, hoje comuns, praticamente inexistiam em 2000.

    Diva explica que o comitê investiga a fundo as causas das mortes no trânsito de Porto Alegre. Incluindo o acompanhamento de vítimas em hospitais, o trabalho se estende por até 30 dias, período em que alguns pacientes morrem em consequência dos acidentes.

    — Trabalhamos em busca de fatores de risco que podem ter gerado o acidente, incluindo estrutura das vias, velocidade e agravantes, como o uso de drogas e álcool ao volante. Hoje, morrem mais pedestres atropelados do que caronas de motos — acrescenta.

    Pressão, pressa e imperícia: um pacote fatal no trânsito

    De um lado, a ordem do patrão para que a entrega seja feita em meia hora, contrariando a Lei Federal 12.436 (2011), que proíbe empregadores de exigir um número mínimo de viagens dos motoboys.

    Do outro, o Código Brasileiro de Trânsito (CTB), que estabelece limites e parâmetros para os motoristas circularem nas vias urbanas. De um lado, uma fileira de carros que não anda. Do outro, uma fila de ônibus e caminhões que repete uma rotina nada dinâmica — anda 10 metros e para.

    Em meio a tudo isso, um motofrentista (nome legal dos motoboys) esgueira-se entre as duas faixas, ziguezagueando.

    Na selva de asfalto onde condutores e pedestres disputam espaço, os motociclistas são provavelmente os que mais se arriscam, exatamente pela exigência de cumprir horários de entrega e voltar à base o mais rapidamente possível, para iniciar uma nova jornada. Mesmo assim, não são eles as mais numerosas vítimas dos acidentes fatais envolvendo motocicletas de Porto Alegre.

    — Dos 692 pacientes internados no Hospital de Pronto Socorro (HPS) depois de acidentes de moto, a grande maioria era de motoboys — assegura Diva Yara Leite. — Os motoboys não são os que mais morrem, comparativamente, mas sofrem muitos acidentes.

    O presidente do Sindimoto admite que muitos profissionais das duas rodas cometem erros — ele próprio diz que ultrapassa pela direita, quando necessário —, mas divide a culpa com os demais motoristas. Na opinião de Valter

    Ferreira, falta cooperação e compreensão entre os diferentes públicos que utilizam as vias urbanas:

    — Quando tu tens um motociclista consciente, não há ziguezague. Mas, infelizmente, também não temos motociclistas, motoristas de carros e pedestres que se respeitam.

    Segundo Ferreira, além da falta de educação dos motoristas em geral, outra questão é a falta de preparação dos motociclistas. Em sua avaliação, 98% dos cerca de 2 milhões de habilitados a guiar motos no Estado são “imperitos”. Dos 13 mil filiados aos Sindimoto, estima o presidente, apenas 2% são, de fato, profissionais.

    — A formação não é qualificada. Os motociclistas são formados em áreas fechadas, sem contato com óleo na pista, com outros veículos ou pedestres — explica Ferreira. — Antigamente, os critérios para se tirar uma CNH de moto eram mais rigorosos. Hoje, com uma carteira básica, pode-se pilotar qualquer moto, desde as pequenas até as grandes, que exigem um outro nível de pilotagem.