Cunhada do vice-governador: Vítima de dengue não fez exame por falta de reagente

    CUNHADA DE VICE-GOVERNADOR ERA SERVIDORA DO HOSPITAL DE BRAZLÂNDIA

    Unidade não tinha teste rápido; na web, Santana criticou ‘gestão tecnocrata’

    Primeira vítima fatal de dengue hemorrágica no Distrito Federal neste ano, Maria Cristina Santana, cunhada do vice-governador, Renato Santana, não conseguiu fazer o exame rápido da doença no Hospital Regional de Brazlândia. O registro médico obtido pela TV Globo aponta “falta de reagente” na última segunda-feira (25), quando ela deu entrada na unidade. …

    A vítima era enfermeira e trabalhava no Hospital de Brazlândia há 16 anos. Mesmo assim, só conseguiu fazer os exames básicos de sangue e urina na unidade.

    Para fazer o teste de dengue, ela precisou ir até o Centro de Saúde n° 1 da região, que fica a 5 km de distância do hospital.

    Em nota, o vice-governador afirmou que a falta de reagentes para exames básicos é “inadmissível na capital da República”. Segundo Santana, alguém precisa ser responsabilizado em tragédias como essa, “mesmo que seja preciso apontar o dedo para nós, governo”.

    Os exames comprovaram que a enfermeira estava com dengue, mas não indicaram a gravidade da doença. Em nota divulgada em redes sociais, Renato Santana afirmou que a cunhada tomava um medicamento diurético que “camuflou” a doença. A queda nas plaquetas, necessária para o diagnóstico da dengue hemorrágica, não apareceu no exame de sangue.

    Os testes foram feitos na segunda. Maria Cristina voltou a passar mal na terça, quando foi internada no Hospital Regional de Brazlândia. Por volta das 23h, a paciente foi transferida para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde morreu quatro horas depois.

    Segundo o GDF, a paciente teve o quadro agravado por uma hipertensão. A paciente teve ums infecção dois anos antes, em virtude de complicações por uma cirurgia bariátrica. Na ocasião, ela teve anemia profunda, que não foi tratada de forma adequada.

    Quadro de choque

    O chefe do Núcleo de Controle de Endemias da Secretaria de Saúde, Dalcy Albuquerque Filho, afirmou nesta sexta (29) ao Bom Dia DF que Maria Cristina foi internada já “próxima ao quadro de choque [circulatório]” – o sintoma mais grave da dengue (veja vídeo acima).

    Sistema do Hospital Regional de Brazlândia indica que teste de dengue não foi feito por falta de reagentes (Foto: TV Globo/Reprodução)

    “A informação que nós temos é que começou a apresentar sangramento de manhã. Talvez, por ser algo que ela já tenha tido anteriormente, ela não tenha valorizado. Quando chegou, ela já tinha perdido muito sangue e estava com pressão baixa e tudo mais, já indicando quadro próximo de choque.”

    A informação que nós temos é que começou a apresentar sangramento de manhã. Talvez, por ser algo que ela já tenha tido anteriormente, ela não tenha valorizado. Quando chegou, ela já tinha perdido muito sangue e estava com pressão baixa e tudo mais, já indicando quadro próximo de choque”

    Dalcy Albuquerque Filho, chefe do Núcleo de Controle de Endemias

    Com febre alta, mal estar, dores no corpo e indícios de sangramento, a paciente deveria ter sido internada imediatamente – são os chamados “sinais de alerta”. Sem atribuir responsabilidades, Filho diz que o tratamento começou tarde demais.

    “Sempre que a gente tem uma paciente com ‘clínica de dengue’, que mora num local com transmissão intensa de dengue, tendo ou não teste rápido, essa paciente, até segunda ordem, tem dengue. Você tem que procurar os sinais de alerta, como um sangramento de qualquer monta, e ela deve ser internada, colocada em observação e iniciar um proceso de hidratação.”

    ‘Gestão tecnocrata’

    Na quinta-feira (28), Renato Santana fez uma publicação em redes sociais, criticando o que chamou de “gestão tecnocrata”. “Quantas ‘Cristinas’ morrem todos os dias pela economia equivocada, em alguns momentos, de dinheiro na crise enquanto alguns tecnocratas ainda persistem em não se mexer para ver que o mundo real é muito diferente da bolha de gabinetes?”, escreveu o vice-governador.

    Trecho de declarações do vice-governador do DF em rede social (Foto: Reprodução)

    Após o enterro da cunhada, Santana afirmou à TV Globo que a situação no DF é “gravíssima”. “É uma guerra, tem pessoas perdendo a vida em decorrência da dengue. Em gabinete, não vamos resolver absolutamente nada. Temos que estar na rua. É na rua que vamos vencer essa guerra.”

    Laudo confirmando causa da morte de Maria Cristina Santana, cunhada do vice-governador do DF, Renato Santana (Foto: Reprodução)

    Casos de dengue

    Boletim epidemiológico divulgado na quarta-feira (27) mostra que o DF teve 487 casos confirmados de dengue até o dia 25 de janeiro. O número é 153% maior do que as 192 confirmações da doença no mesmo período do ano passado.

    O documento aponta que Brazlândia, São Sebastião, Ceilândia e Planaltina concentram 59% dos casos diagnosticados – 289 confirmações. Só em Brazlândia foram 162 casos – 5.300% mais do que as 3 confirmações da doença no mesmo período de 2015. DO G1 DF. Extraído do BLOG DO EDSON SOMBRA.

     

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