Campanha antes da hora nas redes sociais

    Candidatos usam a rede para espalhar simpatia, divulgar ações e atacar adversários, certos da força da internet, principalmente no Distrito Federal, onde 75% do eleitorado têm acesso a sites. Para especialistas, prática pode ser considerada propaganda irregular

    A briga pelos votos já começou. Pelo menos, no mundo virtual. A propaganda eleitoral só é autorizada a partir de seis de julho, conforme determina a lei. Até lá, os pré-candidatos tentam mostrar simpatia e divulgar a imagem por meio das redes sociais. Por possibilitar acesso rápido ao eleitor e não exigir muitos investimentos, além de não contar com um marco regulatório, os sites mais conhecidos são utilizados sem parcimônia. A estratégia pode ser notada, principalmente, entre quem tem mandato e dispõe de estruturas mais organizadas para postar na internet ações e mensagens.

    As práticas são variadas. Para publicar nas próprias páginas, os políticos tiram fotos em eventos — como encontros com entidades, campeonatos de futebol, caminhadas por cidades, aniversários e festas —, em visitas a moradores e em inaugurações, por exemplo. Para agradar às categorias, os candidatos também publicam parabenizações a toda comemoração do calendário oficial. Dia da empregada doméstica, do contabilista, do Trabalho são oportunidades para se apresentarem ao eleitor. Eles também postam frases de efeito e abraçam campanhas que estejam na moda, como a contra o racismo, que ficou famosa pela iniciativa do jogador Daniel Alves, do Barcelona, de comer uma banana jogado por um torcedor. Foi o caso da deputada Eliana Pedrosa (PPS), que pegou carona no marketing do craque Neymar, também do Barcelona…

    Unidos no mecanismo virtual de vender a imagem, os pré-candidatos acabam divergindo quando se trata de marcar posição em suas trincheiras. Se é do lado do governo, o político fala bem das administrações e tenta colar sua imagem à do governador Agnelo Queiroz (PT) e à da presidente Dilma Rousseff (PT), como o deputado distrital Chico Vigilante ou o presidente do PT, Roberto Policarpo. Se é de oposição, a regra é criticar todo e qualquer tipo de realização do governo petista. Um perfil no Facebook intitulado “Volta que voto”, em defesa da candidatura de José Roberto Arruda (PR), tem se dedicado a criticar a atual gestão e compará-la à do ex-governador.
     
    A aposta no meio digital não ocorre por acaso no DF, a capital federal tem a maior proporção de eleitores conectados do país. Segundo levantamento da consultoria Bites, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 74,2% acessam a rede mundial de computadores em Brasília. É a maior média nacional.
    A força das redes sociais tem feito os políticos se adaptarem. Coordenador de várias campanhas, Hélio Doyle destaca a importância da internet no processo eleitoral. “Todos têm consciência da força. Há uma polêmica sobre o peso real das redes sociais, com relação ao espaço em outras mídias, mas todos estão aprendendo a usar. É tudo muito novo e com evolução rápida”, afirma. 
     
    Com o fácil acesso, o território livre pode também ser usado para ofensas, com perfis não identificados. “As pessoas usam as redes sociais para fazer a luta política. Aí tem um lado complicado, com agressões, ofensas, muitas vezes com endereços falsos, ironias, brincadeiras. Nesse lado, é uma guerra de guerrilha. No lado formal, é uma guerra de posições. E os dois lados podem ser importantes em uma eleição”, explica. 
     
    Especialista em direito eleitoral, o o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) Francisco Caputo ressalta a dificuldade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fiscalizar as postagens de políticos e pré-candidatos na internet. Ele ressalta que, na última eleição, a fiscalização foi rigorosa, mas, atualmente, com a rapidez que as publicações são feitas, fica quase impossível fazer um controle de tudo o que é lançado nas redes sociais. “Os candidatos sabem que o abuso é passível de punição. É preciso ser cauteloso, não pedir voto, não falar qual cargo vai concorrer”, detalha. 
     
    O advogado explica que postar imagens de agendas políticas, abraços com eleitores, recados aos seguidores e outras, como as que têm sido divulgadas pelos candidatos, não é proibido. “Não tem como caracterizar o pedido de voto. E acredito que, neste primeiro momento, eles serão bem cautelosos. Mas, depois de escolhido em convenção e definido em registro, provavelmente o Tribunal libere a propaganda nas redes sociais. E acho que não vão conseguir controlar eventuais abusos”, diz Caputo. 
     
    “O Tribunal vai impondo limites e os candidatos e marqueteiros vão encontrando brechas. Em carros, já é possível encontrar adesivos, domínios de internet. É uma forma dissimulada de fidelizar o eleitor e fixar o nome (do candidato) de forma lícita”, alerta o advogado. Se alguém notar propaganda eleitoral antes do prazo previsto para o início da campanha, a melhor opção é denunciar o caso ao Ministério Público Eleitoral. Se a propaganda for constatada, os políticos podem sofrer várias punições, entre elas multas.
     
    6
    de julho
    Início da propaganda oficial dos candidatos
     
    19
    de agosto
    Dia em que começa o horário eleitoral no rádio e na tevê

    Fonte: ALMIRO MARCOS e KELLY ALMEIDA – Correio Braziliense –