Casal Gay: “Pai” é preso, por contradições em depoimentos. Pai de irmãos adotivos mortos em incêndio é preso temporariamente em Poá

Foi preso temporariamente Ricardo Reis de Faria e Vieira, um dos pais dos três irmãos que morreram nesta quarta-feira (17) depois que o quarto em que eles dormiam pegou fogo, em Poá. As três crianças tinham sido adotadas por um casal homoafetivo que se separou recentemente e a guarda era compartilhada.

No momento do incêndio, Gabriel Reis de Faria e Vieira, de 9 anos; Fernanda Verônica Reis de Faria e Vieira, de 14 anos, e Lorenzo Reis de Faria e Vieira, de 2 anos, estavam no mesmo quarto, na casa de Ricardo. Segundo a polícia, havia grades na janela e a porta estava trancada. As três vítimas foram encontradas carbonizadas.

O delegado Eliardo Jordão afirma que pediu a prisão por causa das contradições entre os depoimentos.

Segundo a polícia, Ricardo afirmou ter acordado apenas quando sentiu o cheiro da fumaça. Uma vizinha, porém, disse ter ouvido pedidos de socorro. Segundo a testemunha, uma criança gritava: “Pai, não deixa eu morrer aqui”.

Ricardo Reis de Faria e Vieira em entrevista à TV Diário em 2019 — Foto: Reprodução/TV Diário

Ricardo Reis de Faria e Vieira em entrevista à TV Diário em 2019 — Foto: Reprodução/TV Diário

O pai ainda afirmou que, quando percebeu o incêndio, tentou arrombar a porta. Como não conseguiu, seguiu até a delegacia, que fica a poucos metros da casa, para pedir ajuda e disse que seus filhos estavam lá. Um policial civil foi até o imóvel, conseguiu arrombar, mas já não era mais possível chegar até as crianças por causa das chamas.

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Já mais tarde, no depoimento, Ricardo chegou a afirmar que pensou que os filhos tinham sido sequestrados, segundo a polícia. Ele afirmou ter ido até a janela, pelo lado de fora, após ter percebido o incêndio, mas que os filhos não estavam no quarto – versão que contradiz o momento em que foi pedir socorro.

“Ele veio pedir socorro na delegacia, porque as crianças estavam trancadas lá e ele não conseguia arrombar a porta. O policial civil foi até a casa e arrombou a porta. Em razão das chamas, não conseguiu avançar até o quarto, ingressar no quarto”, explica o delegado Eliardo Jordão.

Três crianças morrem após quarto em que dormiam pegar fogo em Poá — Foto: Cristiane Aparecida Athos/Arquivo Pessoal

Três crianças morrem após quarto em que dormiam pegar fogo em Poá — Foto: Cristiane Aparecida Athos/Arquivo Pessoal

Ainda há outros pontos a serem esclarecidos, de acordo com a polícia. “O bebê não era comum dormir nesse quarto, são algumas versões, contradições que ao longo do dia estamos checando. O quarto estava trancado, outro fato que temos que esclarecer, quem trancou e por que estava trancado?”, pontuou Jordão.

Também não se sabe ainda a causa do incêndio, mas segundo o delegado, tudo leva a crer que o fogo começou no quarto em que as crianças dormiam.

Durante a tarde de quarta-feira, a Polícia Científica e a Defesa Civil estiveram no local. Pelo menos oito testemunhas foram ouvidas entre familiares, vizinhos e policiais que atenderam a ocorrência. Um celular encontrado no imóvel foi apreendido.

A defesa afirma que a decretação da prisão temporária foi precipitada e que está tomando providências para revertê-la. Advogada deve entrar com pedido de habeas corpus.

Casa em que crianças viviam, em Poá, foi destruída pelo fogo — Foto: Reprodução/TV Diário

Casa em que crianças viviam, em Poá, foi destruída pelo fogo — Foto: Reprodução/TV Diário

Prisão

O mandado foi expedido na noite desta quarta-feira (17), pela juíza Erika Dalaruvera de Moraes Almeida, da 1ª Vara Criminal do Foro da cidade. Com a medida, Ricardo deve ficar preso por 30 dias.

Na decisão, a magistrada diz que determinou a prisão “diante da existência de fundadas razões de autoria do investigado na prática dos delitos, bem como da materialidade”.

O delegado afirma ainda não haver provas conclusivas. “Só esclarecer aqui a prisão temporária não aponta, não acusa ninguém. É uma prisão processual, um instrumento jurídico para viabilizar a continuidade das investigações. Este foi o motivo em razão de algumas contradições que nós constatamos ao longo do dia”, afirma Jordão.

Advogada de Ricardo deve entrar com pedido de habeas corpus
Advogada de Ricardo deve entrar com pedido de habeas corpus

A advogada Ana Verônica da Silva, que defende Ricardo, diz que não indícios de que seu cliente seja autor do incêndio, pois a perícia ainda não foi concluída. Ela afirma também que as contradições citadas pela polícia não estão aparadas na legislação.

“No momento de nervosismo, ele foi questionado, como estava sem energia lá no momento, ele foi questionado pelo bombeiro se alguém podia ter acendido uma vela, alguma coisa. Ele disse que não, que não sabia. Ele tomou medicamentos para dormir e não sabia se poderia ter sido isso ou não”, diz.

“Ele não afirmou, em nenhum momento, que alguém acendeu uma vela. Nem negou. Ele não sabia. Juridicamente, tecnicamente, isso não é uma contradição”, comenta Ana.

A defesa diz, também, que não há fundamento jurídico para a prisão do pai. Ela declarou que, por tanto, deve entrar com um pedido de habeas corpus.

“Tenho certeza de que, aos serem concluídos esses laudos, a gente vai conseguir provar que esses boatos são todos maldosos, que não condizem com a realidade fática do processo. Até mesmo analisando todo o inquérito, a gente consegue encontrar várias vertentes que levam a uma outra investigação. É nisso que a defesa vai bater”.

Comoção

Leandro, pai das crianças, ficou desolado quando chegou a Poá — Foto: Reprodução/TV Diário

Leandro, pai das crianças, ficou desolado quando chegou a Poá — Foto: Reprodução/TV Diário

O outro pai, Leandro José Reis de Farias e Vieira, que mora em Mogi das Cruzes, chegou ao local na manhã de quarta e ficou desolado com o que encontrou. Familiares diziam que as crianças eram muito amadas pelos dois pais.

Segundo Maria de Lourdes Reis, tia das crianças, eles recebiam muito carinho dos pais.

“Eles dois amavam as crianças. As crianças eram tudo pra eles. A gente não sabe o que aconteceu”, diz Lourdes.

 

Fotos de 2019 dos irmãos que morreram em incêndio em Poá — Foto: Reprodução/TV Diário

Fotos de 2019 dos irmãos que morreram em incêndio em Poá — Foto: Reprodução/TV Diário

Gabriel e Fernanda tinham sido adotados em 2014 pelo casal Ricardo e Leandro. Em 2019, eles também adotaram o caçula, Lorenzo.

De acordo com as informações iniciais da polícia, os dois haviam se separado recentemente e cada pai ficava com os filhos por uma semana.

O delegado também ouviu informações positivas sobre a relação dos dois com os filhos. “Sempre foram exemplo de família. As crianças, educação ímpar. Sempre bem tratadas, criadas. Essas informações que a gente tem, não só de hoje. Os relatos são os melhores possíveis”.

Em 2019, a família chegou a dar entrevista à TV Diário para falar da adoção de crianças por casais homoafetivos. Na época, a filha mais velha expressou sua felicidade com os pais. “Não tem família certa ou errada. O importante é o amor”, disse a menina.

Uma testemunha do incêndio que matou três irmãos nesta quarta-feira (17) em Poá disse à Polícia Civil ter ouvido gritos de socorro. De acordo com o delegado Eliardo Jordão, a vizinha contou ter ouvido pedidos de ajuda, inclusive de uma criança, que teria gritado: “Pai, não deixa eu morrer aqui”.

O incêndio aconteceu na casa em que os três irmãos moravam com um dos pais. Gabriel Reis de Faria e Vieira, de 9 anos; Fernanda Verônica Reis de Faria e Vieira, de 14 anos, e Lorenzo Reis de Faria e Vieira, de 2 anos, foram adotados por um casal homoafetivo que se separou recentemente.

Os corpos dos irmãos foram enterrados no Cemitério Municipal de Poá na manhã desta quinta-feira (18). Amigos e familiares, muito abalados, acompanharam e puderam se despedir em um velório simbólico.

Corpos de irmãos mortos em incêndio são enterrados em Poá — Foto: Natan Lira/G1

Corpos de irmãos mortos em incêndio são enterrados em Poá — Foto: Natan Lira/G1

O pai que estava no imóvel, Ricardo Reis de Faria e Vieira, foi preso temporariamente por causa das contradições em seu depoimento. De acordo com a polícia, uma dessas contradições está no fato dele ter dito que acordou com o cheiro de fumaça e não com os gritos.

Em nota, a defesa do pai informou que a prisão temporária foi precipitada e que está tomando providências para revertê-la.

Vieira compartilhava a guarda dos filhos com o ex-companheiro com quem viveu por quase 15 anos. Os filhos foram adotados pelos dois em 2014 e em 2019.

Três crianças morrem após quarto em que dormiam pegar fogo em Poá — Foto: Cristiane Aparecida Athos/Arquivo Pessoal

Três crianças morrem após quarto em que dormiam pegar fogo em Poá — Foto: Cristiane Aparecida Athos/Arquivo Pessoal

Quarto trancado e contradições no depoimento

Para a polícia, o mais provável é que o incêndio tenha começado no quarto onde as crianças dormiam. “Quando cheguei juntamente com a equipe, a casa toda [estava] incendiada. Realmente uma imagem muito forte, principalmente quando a gente ingressou no quarto dessas crianças onde os três estavam mortos naquele quarto. Aquela imagem que eu não queria ter presenciado, infelizmente aconteceu. Uma situação absurda”, contou o delegado.

Segundo o delegado, o pedido de prisão temporária foi feito para viabilizar as investigações. “Só esclarecer aqui a prisão temporária não aponta, não acusa ninguém. É uma prisão processual, um instrumento jurídico para viabilizar a continuidade das investigações. Este foi o motivo em razão de algumas contradições que nós constatamos ao longo do dia”, afirmou Jordão.

Entre as respostas que a polícia procura está o motivo para o quarto das crianças, que tinha grade nas janelas, estar trancado.

“O bebê não era comum dormir nesse quarto. São algumas versões, contradições que ao longo do dia estamos checando. O quarto estava trancado, outro fato que temos que esclarecer, quem trancou e por que estava trancado?”, pontuou Jordão.

Polícia pede prisão de um dos pais dos três irmãos mortos em incêndio, em Poá

Polícia pede prisão de um dos pais dos três irmãos mortos em incêndio, em Poá

Outra contradição é que Ricardo afirmou em depoimento ter ido até a janela, pelo lado de fora, após ter percebido o incêndio, mas que os filhos não estavam no quarto. Mas no momento do incêndio, ele foi até a delegacia, que fica a poucos metros da casa, pedir ajuda para arrombar a porta e dizendo que os filhos estavam lá.

“Ele veio pedir socorro na delegacia, porque as crianças estavam trancadas lá e ele não conseguia arrombar a porta. O policial civil foi até a casa e arrombou a porta. Em razão das chamas, não conseguiu avançar até o quarto, ingressar no quarto”, disse o delegado.

Durante a tarde, a Polícia Científica e a Defesa Civil estiveram no local. Oito testemunhas foram ouvidas até o momento entre familiares, vizinhos e policiais que atenderam a ocorrência. Ainda não se sabe a causa do incêndio. No final da tarde de quarta foi encontrado um celular no cômodo, que foi apreendido.

Corpos de crianças mortas em incêndio, em Poá, deixam funerária — Foto: Natan Lira/G1

Corpos de crianças mortas em incêndio, em Poá, deixam funerária — Foto: Natan Lira/G1

Comoção

O outro pai, Leandro José Reis de Farias e Vieira, que mora em Mogi das Cruzes, chegou ao local pela manhã e ficou desolado com o que encontrou. Familiares diziam que as crianças eram muito amadas pelos dois pais.

Leandro, pai das crianças, ficou desolado quando chegou a Poá — Foto: Reprodução/TV Diário

Leandro, pai das crianças, ficou desolado quando chegou a Poá — Foto: Reprodução/TV Diário

Segundo Maria de Lourdes Reis, tia das crianças, eles recebiam muito carinho dos pais.

“Eles dois amavam as crianças. As crianças eram tudo pra eles. A gente não sabe o que aconteceu”, disse Lourdes.

Gabriel e Fernanda foram adotados em 2014 pelo ex-casal Ricardo e Leandro. Em 2019, eles também adotaram um bebê.

Casa em que crianças viviam, em Poá, foi destruída pelo fogo — Foto: Reprodução/TV Diário

Casa em que crianças viviam, em Poá, foi destruída pelo fogo — Foto: Reprodução/TV Diário

O delegado também ouviu informações positivas sobre a relação dos dois com os filhos. “Sempre foram exemplo de família. As crianças, educação ímpar. Sempre bem tratadas, criadas. Essas informações que a gente tem, não [são] só de hoje. Os relatos são os melhores possíveis”.

Em 2019, a família chegou a dar entrevista à TV Diário para falar da adoção de crianças por casais homoafetivos. Na época, a filha mais velha expressou sua felicidade com os pais. “Não tem família certa ou errada. O importante é o amor”, disse a menina.

Fonte: G1