Encontro de carrinhos de rolimã se tornou um momento de troca de experiências entre gerações
Raphaella Sconetto
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Madeira, rolamentos, com ou sem freio, e alguns até com partes de cadeiras para ficarem mais confortáveis. Com esses elementos, os carrinhos de rolimã fazem parte de uma brincadeira antiga de rua. E foi justamente com o intuito de relembrar a infância e repassar às crianças essa brincadeira que um grupo promoveu o 2º Encontro de Carrinhos de Rolimã, no Parque Vivencial do Paranoá. A estimativa da organização é de que cerca de 700 brasilienses foram até o local se divertir. Segundo um dos organizadores do encontro, Rozil Alves de Oliveira, a ideia surgiu com o grupo Os Rolimistas, que frequentam o espaço. “Somos 15 amigos que brincam de carrinho de rolimã. Andamos aqui no Parque Vivencial há um bom tempo e fomos percebendo que era uma brincadeira que estava ficando esquecida. As crianças ficam dentro de casa, mexendo em computador, videogame e celular, e não brincam na rua”, afirma.
Então, surgiu a ideia de fazer um primeiro encontro em janeiro. “Depois disso a comunidade começou a perguntar quando teria mais, que muitas crianças e até pais queriam participar do encontro. É uma brincadeira saudável.Quem tem de 7 a 70 anos pode participar despreocupado ”, brinca.
Mais do que o resgate da memória e ensinar o costume às crianças, Rozil conta que o grupo quis ocupar o parque, que estava abandonado. “Estava sofrendo com descaso. Então, estamos aqui para trazer a diversão e mostrar para quem mora no Paranoá o quanto esse parque é bom para a família poder passar o dia”, ressalta. Ele ainda elenca outro objetivo: “Dia 1º de maio é data da morte de Ayrton Senna. Estar aqui brincando de rolimã é também uma forma de fazer um tributo a ele”, alega.
A adesão foi tamanha que Rozil já pensa quando poderão repetir a dose: “Essa data ficará como um marco para fazermos em outros anos. Assim, as pessoas conseguem aproveitar o feriado”. “Vamos esperar para ver como vai ficar a demanda para marcar o terceiro encontro”, pondera.
Famílias, jovens, adultos e idosos. O encontro foi diversificado no quesito idade. O servente de obras Pedro Gabriel Jesus, 25 anos, participou pela segunda vez. Ele brinca com o carrinho desde a infância, mas nos últimos seis anos tem participado de encontros e campeonatos – inclusive, já esteve no pódio de dois torneios. “Desde então procuro estar todo fim de semana descendo uma rampa. Tem aqui no Vivencial, na Granja do Torto e na Ermida Dom Bosco”, conta.
Morador do Paranoá, ele esteve com seis amigos no evento. Quando chegou, fez todo um preparo na sua “máquina”. “Lubrifico o rolamento, aperto alguns parafusos. É todo um processo para andar, não pode só chegar e colocar no asfalto”, explica. O rolimã de Pedro é enfeitado com caveiras.
Famílias reunidas
Três gerações em uma brincadeira. É assim que a secretária Maria de Lourdes, 51 anos, resume o grupo Carabinas Scuderia, que é composto, em sua maioria, por familiares. O grupo nasceu em maio do ano passado, mas eles praticavam o rolimã quando crianças. “Crescemos na Granja do Torto, e lá tem um morro que muita gente desce. Só que somos moradores do Paranoá e Itapoã e viemos descer no Parque Vivencial”, conta.
Tratando de câncer de mama, ela faz questão de estar presente nos encontros. “Não podia estar aqui por conta do tratamento. Mas a ideia foi minha para resgatar a brincadeira, já que as crianças têm perdido o costume de brincar na rua e ficam em casa, o que provoca doenças como obesidade, diabetes, ansiedade”, aponta. O grupo começou com oito carrinhos e hoje está com cerca de 50.
A paixão da família pegou. Exemplo disso é a estudante Ana Maria Oliveira, de 12 anos, que já tem dois troféus em casa. “No primeiro dia eu não andei, não tinha carrinho. Depois eu quis e pedi para um tio fazer. Aí em todos os eventos eu vou brincar”, conta.
Na escola, ela faz sucesso. “Eu converso com meus amigos e conto que ando, eles ficam sem acreditar. As meninas ficam sem entender, não sabem muito bem como funciona o carrinho de rolimã. Mas eu adoro e quero brincar todo fim de semana”, finaliza.