Lula e Dilma em Porto Alegre esquentam ânimos para julgamento

Parlamentares do PT engrossam fileiras contra pena fixada por Moro. Também haverá atos contra o ex-presidente. Exército está de prontidão

Ricardo Stuckert/PT- Divulgação
Ana Helena PaixãoPedro Alves

Enviado especial a Porto Alegre (RS) – O Partido dos Trabalhadores se prepara para a “guerra”. Cerca de 50 mil pessoas são esperadas para tingir de vermelho, cor da bandeira petista, as ruas de Porto Alegre durante esta semana, decisiva para definir o destino de um dos líderes políticos mais populares em todo o mundo. Na véspera de a 8ª Turma do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF-4) reunir-se pela primeira vez neste ano e começar a decidir se mantém, aumenta ou extingue a pena imposta em julho pelo juiz federal Sérgio Moro a Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro ex-presidente do país condenado por corrupção desembarca por volta das 16h na capital gaúcha.

Às 17h desta terça-feira (23/1), é prevista a participação do petista em ato da militância na chamada Esquina Democrática – cruzamento entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua dos Andradas, no centro de Porto Alegre, e  tradicional ponto de manifestações populares na cidade. Ao seu lado, estará a primeira mulher a assumir o comando da Presidência da República e também primeira chefe do Executivo federal a ser destituída do poder enquanto estava no exercício do mandato, Dilma Rousseff.

A expectativa é de que a presença dos dois ícones petistas encoraje ainda mais a militância a cobrar do Judiciário a liberação de Lula para a disputa eleitoral deste ano. Mas pode ter efeito inverso: no fim da tarde, será realizado protesto contra o ex-presidente coordenado pelo Movimento Vem pra Rua,  no Parque Moinhos de Vento, o Parcão, espaço usual de protestos em apoio à Lava Jato, em Porto Alegre.

Confira imagens das mobilizações

 

Embora ambos os movimentos tenham firmado uma espécie de pacto de não agressão costurado pela Secretaria de Segurança Pública do estado (SSP-RS), comprometendo-se a promover mobilizações pacíficas, o governo federal achou por bem pôr as Forças Armadas em prontidão. Na segunda (22), o ministro da Justiça Raul Jungmann afirmou existir “pessoal de pronto emprego para qualquer emergência”, diante da tensão em torno do julgamento. “Estamos prontos e atentos… Há lugar para protesto, manifestar opinião, mas dentro da ordem, com respeito às pessoas e à propriedade”, disse.Os soldados agirão em casos excepcionais, afirmou o ministro, reforçando o policiamento ostensivo, que estará a cargo da Brigada Militar da capital e de duas cidades do estado convocadas para atuar em Porto Alegre durante esta semana, além da Polícia Civil, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e de tropas da Força Nacional incumbidas de proteger prédios federais.

As avenidas que dão acesso ao tribunal serão fechadas a partir do meio-dia desta terça. Às 17h, o perímetro imediatamente em volta do TRF-4 se torna restrito a pessoas autorizadas. No dia do julgamento, a Avenida Edvaldo Pereira Paiva, uma das principais da cidade, será bloqueada para garantir a segurança do júri – o bloqueio será terrestre, aéreo e também naval, uma vez que o tribunal encontra-se nas imediações do rio Guaíba. “O objetivo das operações é a manutenção da ordem pública e da livre manifestação”, afirmou o secretário da SSP-RS, Cezar Schirmer.

Operação de guerra
Há uma preocupação extra com a segurança dos três desembargadores que julgarão os recursos de Lula e mais três acusados contra suas condenações na Lava Jato, bem como a apelação do Ministério Público Federal a respeito da sentença dada ao petista e a absolvição de mais três envolvidos. Aeronaves da PRF estão prontas para levar o trio julgador até a sede da Corte federal caso haja protestos ou lentidão nas vias. Se o deslocamento terrestre for possível, os magistrados serão escoltados por batedores da corporação durante todo o percurso.

Os números relacionados à sessão do TRF-4 são grandiosos e ajudam a justificar a “operação de guerra”. Além dos 50 mil apoiadores do ex-presidente, que se encaminharam à capital gaúcha em 300 caravanas saídas de todos os cantos do país, a Corte federal em Porto Alegre credenciou 300 jornalistas – 43 deles estrangeiros – para cobrir a sessão. Isso sem mencionar os participantes das manifestações anti-Lula, público ainda não totalmente mensurado. Só o evento CarnaLula, marcado para o dia do julgamento, tinha, até a madrugada desta terça-feira, 1,5 mil confirmações de presença em sua página no Facebook e 5,4 mil interessados, mas os próprios organizadores admitiram esperar manifestações discretas contra o petista.

Lula e Dilma, por sua vez, estarão escoltados por parlamentares federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal, além da militância. Entre os congressistas, nove senadores e 43 deputados tinham confirmado, na segunda-feira (22/1), presença em Porto Alegre. O distrital Ricardo Vale também foi para a capital gaúcha, assim como o ex-governador do DF Agnelo Queiroz. Mas nem todos os apoiadores receberam bem a notícia de que o presidente de honra do Partido dos Trabalhadores estará na cidade nesta terça (23).

Na opinião de João Pedro Stédile, integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que já está na capital, seria melhor Lula não ir ao ato agendado por seus seguidores. “Pode ser interpretado como uma provocação. Se ele me pedisse opinião, eu diria que é melhor não vir”, afirmou. Sem consultá-lo, Lula decidiu comparecer, mas, por via das dúvidas, na quarta-feira (24) ficará em São Paulo, enquanto os integrantes da 8ª Turma decidem seu destino.