HORIZIONTE SOCIALISTA – PSB PODE EXPULSAR GOVERNISTAS, FORTALECER ESQUERDA, BASE POPULAR E SE DISTANCIAR DE VEZ DO PLANALTO

Carlos Siqueira, que presenta guardiã do legado de Miguel Arraes e Eduardo Campos, busca fazer com que o partido retome às origens

 

A decisão do presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), o pernambucano Carlos Siqueira, em afastar das funções administrativas, nos seus respectivos estados, os deputados que desobedeceram a orientação do partido e votaram a favor da Reforma Trabalhista, mais que uma punição aos infiéis, visa recolar, literalmente, a legenda fundada por Miguel Arraes, nos trilhos.

Em outras palavras, rifar os amantes do governo, fortalecer o avanço das forças de esquerda dentro do próprio partido nas diferentes regiões do País, distancia-se o máximo do Palácio do Planalto e aproximar-se urgente das camadas populares, como ditam os seus princípios básicos e ideológicos.

Na semana em que a Executiva Nacional fechou questão em se posicionar contrário às reformas do governo Michel Temer, 14 deputados do partido descumpriram a orientação e votaram a favor da Reforma Trabalhista, no dia 26 deste mês. A bancada socialista na Câmara dos Deputados tem 34 deputados.  Total de 30 votou no Plenário. Destes, somente 16 seguiram a posição da Executiva. Quase a metade.

Alguns infiéis

Dia 27, foram imediatamente afastados das Comissões Provisórias nos seus estados a líder da bancada do PSB, deputada Tereza Cristina, no Mato Grosso do Sul; Danilo Forte, no Ceará; Fábio Garcia, no Mato Grosso; e Maria Helena, em Roraima.

Estes e outros parlamentares, que também votaram a favor da reforma e contra o PSB, podem ser expulsos do partido. Entre eles estão o atual ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho e João Fernando Coutinho, de Pernambuco; Rodrigo Martins, Átila Lira e Heráclito Fortes, do Piauí; e José Reinaldo Tavares, do Maranhão;

Planalto mais distante

Esta posição do PSB – tanto em relação aos socialistas infiéis, quanto às propostas de Temer – mostra a vontade do partido de rompimento com o governo e em voltar às origens.

O presidente Carlos Siqueira, considerado o guardião histórico do legado de Miguel Arraes e de Eduardo Campos, há meses vinha sinalizando afastamento do Palácio do Planalto, fazendo entoar pela imprensa suas críticas às reformas trabalhista e previdenciária e até às manobras dentro do Congresso.

Mas, o sinal maior desse descontentamento se deu no duro discurso que Siqueira fez no último dia 22, em um evento promovido em Brasília pelo Movimento Popular Socialista (MPS) – um dos principais segmentos do PSB e considerado o mais forte deles, que tem como seu principal expoente o atual subsecretário de Movimentos Sociais e Participação Popular do GDF, o advogado e ex-guerrilheiros Acilino Ribeiro, muito ligado ás organizações populares e que mobilizou quinhentos líderes de movimentos sociais para se filiarem ao PSB no DF, fortaleceu a decisão de Carlos Siqueira em conclamar a militância do partido a ir ás ruas no apoio a Greve Geral dia 28 último.

Com o fechamento de questão pela Executiva Nacional do PSB contra as reformas, articulada pelo grupo histórico do qual faz parte Carlos Siqueira, Beto Albuquerque e outros, os 32 deputados federais ficaram obrigados a votarem contra o governo.

Candidatura própria

A posição do partido também demostra claramente que o PSB pretende lançar candidatura própria para Presidente da República nas eleições de 2018.

Dois nomes já embalam a militância do PSB, que após o desaparecimento de Eduardo Campos, busca encontrar um caminho. Um deles é Beto Albuquerque – que foi candidato a vice-presidente da República na chapa com Marina Silva, nas eleições de 2014. O outro é o governador da Paraíba, e Ricardo Coutinho, que se destaca por uma administração reconhecidamente das melhores do Brasil.

Expulsão à vista

O processo para a expulsão e, consequentemente, a perda do mandato dos 14 deputados do PSB já foi formalizado por secretários nacionais de diversos segmentos, liderados pela secretária Nacional do MPS, Jesus Matos, e está na mesa do presidente Carlos Siqueira.

Os demais segmentos do partido – Sindical, Juventude, Mulheres e LGBT – assinaram o pedido que provocará uma reviravolta no PSB. O destino dos 14 deputados socialistas que desobedeceram o posicionamento do partido está nas mãos dos integrantes do  Conselho de Ética do partido. Serão eles os juízes que decidirão se os parlamentares serão expulsos e se perderão o mandato.

QUE É QUEM NO CONSELHO DE ÉTICA DO PSB

O colegiado é composto pelos advogados Alexandre Navarro, Acilino Ribeiro e Rafael Carneiro. Todos históricos militantes do PSB e bastante ligados a Carlos Siqueira. Os três membros do Conselho de Ética não comentam sobre o assunto. Veja, a seguir, as respectivas linhas políticas de cada conselheiro – o que pode sinalizar o que acontecerá com os respectivos processos de expulsão dos deputados.

Alexandre Navarro – Considerado um dos líderes históricos do PSB. Era muito ligado a Miguel Arraes e homem de confiança de Eduardo Campos de quem era grande amigo e por quem foi indicado para o cargo de Secretário Executivo do Ministério da Integração Nacional. Muito articulado politicamente dentro do partido em especial as bancadas parlamentares no Congresso Nacional, é um defensor do resgate histórico e da linha programática do PSB. É o presidente do Conselho de Ética e poderá votar caso tenha algum empate nas votações do órgão. Muito próximo de Carlos Siqueira.

Acilino Ribeiro – Um dos principais líderes da Esquerda do partido e principal crítico do governo Temer. Histórico líder da luta revolucionária é um ex-guerrilheiro que combateu a ditadura através da luta armada e tornou-se próximo a linha política de Arraes. Foi considerado um dos fiéis escudeiros de Eduardo Campos de quem foi um dos principais coordenadores da campanha presidencial. Professor de Direito Internacional e também de Geopolítica e Estudos Estratégicos é considerados um homem Ético e rígido na defesa dos princípios do partido. De formação marxista é bastante ligado aos movimentos sociais que hoje dão forte sustentação política a Carlos Siqueira. Da linha dura do partido, deve ser o Relator dos processos.

Rafael Carneiro – É mestre em Direito Constitucional pela Universidade Humboldt de Berlim (2009) e da Direção da Fundação João Mangabeira do PSB. É o advogado das principais ações jurídicas do Partido. Também muito ligado a Carlos Siqueira, mas dos três é o que politicamente pouco se conhece as posições, pois é considerado mais jurista que político. De linha moderada, deve ser o revisor dos processos.

(Por Gil Maranhão – Agência Política Real, com informações da assessoria do PSB. Edição: Genésio Jr.)