Esposa de secretário é sócia em empresa suspeita de fraude no Samu

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    “SOS Samu”: Esposa de secretário é sócia em empresa suspeita de fraude no Samu

    Servidores recebiam propina para encaminhar pacientes a UTIs específicas.

    G1GO – 04/07/2016 – 00:36:23

    O Ministério Público de Goiás investiga se uma empresa que administra Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e que tem como sócia a esposa do Secretário Municipal de Saúde está envolvida em uma fraude no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em Goiânia. O titular do órgão, Fernando Machado, nega qualquer envolvimento dele e da mulher com as irregularidades.

    Durante a operação, denominada “SOS Samu”, foram presos 21 pessoas, entre médicos, servidores do Samu e donos de hospitais e de UTIs particulares. Segundo o Ministério Público, o foco do grupo eram pacientes que tinham plano de saúde. Após ser feito o atendimento de urgência pelo Samu, os socorristas entravam em contato com a central de regulação, responsável por controlar o encaminhamento das vagas das UTIs. Ao invés de mandar o paciente a algum hospital vinculado ao SUS, encaminhavam para unidades particulares. Com isso, as UTIs ficavam cheias de pacientes, garantindo lucro para os médicos e donos dos leitos.

    Uma das empresas investigadas é a Organização Aparecidense de Terapia Intensiva LTDA (Oati). Fernando Machado foi acionista da empresa até 2014, quando já era secretário de Saúde da capital. Entretanto, naquele ano, passou a sociedade para a mulher, a médica Vanessa Gomes Maciel.

    Questionado se estava preocupado com a investigação na empresa em que já foi sócio e que sua mulher tem participação, Fernando Machado se disse tranquilo. “Nem eu e nem minha esposa cometemos nenhum tipo de ilícito”, disse.

    Uma nota enviada pela Secretaria Municipal de Saúde reafirma que Fernando Machado não tem ligação com as irregularidades investigadas pelo Ministério Público. O comunicado diz ainda que “o fato de sua esposa ter cotas em uma empresa de UTI em outro município (Aparecida de Goiânia) não configura participação dos mesmos em qualquer ilícito. A família adquiriu cotas na empresa em período anterior à gestão de Fernando Machado como secretário”.

    A secretaria explica que quem está sendo investigado é um dos funcionários da empresa e não há inquérito contra Fernando Machado no MP.

    Depoimentos

    Alguns dos investigados pelo Ministério Público confessaram participação no esquema. O motorista de ambulâncias do Samu Júnior dos Santos disse que recebia R$ 300 de propina para deixar uma paciente na UTI, mesmo sem ela precisar desse tipo de atendimento. Ele admitiu ainda que fez isso algumas vezes. “Foram poucas vezes. Quatro vezes, mais ou menos”, disse.

    Ao todo, 19 hospitais são suspeitos de pagar suborno de até R$ 15 mil para socorristas e médicos. “É uma investigação que deixou todo mundo estupefato pela forma que os investigados agiam, aproveitando um momento de fragilidade das vítimas para obter ganho financeiro”, disse o procurador-geral de Justiça, Lauro Machado Nogueira.

    Em nota, o advogado de Júnior dos Santos disse que a inocência dele vai ser provada durante o processo.

    Em alguns casos, os promotores do MP disseram que os médicos tomaram ações que colocaram em risco a saúde dos pacientes. “Um paciente que precisava de glicose e não foi ministrado. Foi dada medicação para induzir o coma, para que ele fosse internado”, disse o coordenador do Gaeco, Luis Guilherme Gimes.

    Em outro caso, o órgão afirma que um dos suspeitos colocou a vida de um homem em risco para transportá-lo para um hospital que fazia parte do esquema fraudulento. “Temos uma testemunha que foi ouvida e nos disse que um paciente, vítima de AVC, foi atendida pelo Samu e eles estavam praticamente em frente de um hospital. Fizeram contato com a regulação e o médico regulador determinou que esse paciente fosse encaminhado para outro hospital, que não era o mais próximo, mesmo gerando perigo de morte”, explicou Gimenes.

    Agora, os investigadores tentam localizar os prontuários médicos para saber se houve morte causada pela ação dos médicos, socorristas e donos de UTIs.

    Propina

    Os subornos eram passados por médicos e por proprietários de UTIs por meio de depósitos bancários ou até mesmo entregando dinheiro em espécie diretamente aos integrantes do esquema. Entre as provas colhidas pelo MP estão confissões de pessoas envolvidas no esquema e quebra de sigilos bancários.

    “Servidores técnicos, enfermeiros e socorristas começaram recebendo R$ 100 e hoje já estava em R$ 500. Já um médico podia receber até o valor de uma diária de internação na UTI”, disse o coordenador do Gaeco.