"Se estivesse satisfeito não seria candidato", diz Agnelo

    Em sabatina no Jornal de Brasília, governador atribui a alta rejeição à falta de publicidade de suas ações no GDF


    Com firmeza, sorrisos e respostas  longamente fundamentadas, o governador Agnelo Queiroz (PT) encerra a série de sabatinas do Jornal de Brasília com os candidatos ao Governo do Distrito Federal. O petista respondeu às perguntas dos jornalistas da casa e dos leitores e internautas, que participaram ativamente do debate. Ele aproveitou o espaço para enumerar seus feitos e prometer a continuidade de seu trabalho. Sobre os altos índices de rejeição revelados pelas pesquisas, ele disse que pouco mostrou dos seus projetos e essa é uma das razões. “Não estou satisfeito. Se estivesse, não seria candidato”, disse, pedindo oportunidade para “fazer mais”.
    O que representa para o senhor participar desta sabatina do Jornal de Brasília?
    Esta iniciativa é muito positiva e contribui com a nossa democracia. É uma oportunidade de ouro para debatermos nossa cidade e as propostas dos candidatos. Para mim, é fantástico, porque peguei o governo numa situação delicada, com uma cidade envergonhada e desacreditada. E hoje, com a casa arrumada, apresentamos Brasília para o mundo inteiro no período da Copa. Nossa cidade foi elogiada no mundo inteiro. A surpresa do mundo é que o Brasil tem uma cidade limpa, organizada, funcional e com povo hospitaleiro e carinhoso. Isso, para nós, é a maior demonstração prática da aprovação da cidade.
    Por que o brasiliense deveria reconduzir o senhor ao GDF?
    Nós começamos um trabalho, que está em curso. O que fizemos até agora  foi mais do que foi feito em qualquer governo anterior. Entretanto, esse projeto não pode ser interrompido. Se eu entreguei o Expresso DF Sul, eu  preciso entregar o Expresso Norte, Expresso Sudoeste,  Expresso Oeste e as obras do metrô de seis quilômetros, que já estão projetadas, além dos mais cinco quilômetros de metrô que eu preciso buscar, até o fim da Asa Norte.
    Como é o senhor interpreta os índices de rejeição demonstrado nas pesquisas?
    Nós passamos um período muito crítico na nossa política. Foi a maior crise da nossa história. Tivemos  o primeiro governador preso durante o exercício do mandato na história do Brasil. Isso não é pouco, é dramático. É evidente que a população ainda tenha reticências. Eu dou razão, porque isso desanima, envergonha, entristece. As pessoas ficam céticas, querem resultados, querem mais. Com razão. Cabe a nós, os gestores, fazer e mostrar que fez. Eu pouco mostrei que fiz. Essa é uma das razões. Eu vou ter oportunidade agora, depois de trabalhar igual a um louco, de mostrar tudo o que fiz. Eu não estou satisfeito. Se estivesse, não seria candidato. Tenho confiança de que vou fazer mais.
    Quatro anos atrás, o Jornal de Brasília publicou uma carta com seus compromissos de campanha. Entre outras coisas, o senhor prometeu contratar quatro mil policiais e implementar o Saúde em Casa. Por que não cumpriu?
    Eu cumpri. Contratei aproximadamente cinco mil policiais. Quatro mil só da Polícia Militar e 1.200 do Corpo de Bombeiros. Abriu um concurso da Polícia Civil para mais três mil policiais civis. Sobre o Saúde em Casa é o Saúde da Família. Eu contratei 15 mil profissionais, por concurso público, para a área de saúde. A grande maioria foi para a atenção primária e para as UPA’s (Unidades de Pronto Atendimento). São aproximadamente 300 equipes no Saúde da Família recepcionadas por nove Clínicas da Família. Nestas clínicas, cada equipe cuida de três mil pessoas, que são conhecidas e visitadas. Tem um consultório de odontologia só para estas três mil pessoas. Minha meta é chegar, até 2018, com 70% de cobertura de atenção primária. Eu precisaria ter mais 100 equipes para chegar a este patamar. Eu tenho certeza de que cumpri rigorosamente esses compromissos e posso melhorar esses indicadores, com a experiência que tenho hoje.
    Por que o plano de saúde dos servidores da administração direta não saiu do papel?
    Essa é uma das reivindicações que estão sendo trabalhadas pelo nosso governo. É uma das conquistas importantes para os nossos servidores. Alguns já têm, como os da área da educação e da polícia, mas é preciso ampliar para os demais. É um dos compromissos nossos, está em curso e será uma realidade muito próxima para todos os servidores, inclusive os da administração direta do GDF.
    Qual é a sua opinião sobre a guerra contra o crime e o tráfico? O que tem sido feito e quais são suas intenções para melhoria?
    Trata-se de uma guerra mesmo. Temos que ser implacáveis e combater com muita consistência. A política de segurança pública é mais ampla e inclui prevenção e policiamento. Existe hoje no DF uma política diferente da anterior, que era montada em postos que imobilizam o policial. Hoje, o policiamento é dinâmico, inteligente. Estamos fazendo isso por meio do Ação Pela Vida, com a integração das forças policiais. Dividimos o DF em quatro quadrantes, com comando conjunto das polícias Militar, Civil, Bombeiros e Detran.  Isso tem feito com que os indicadores sejam reduzidos. Eu me reúno todo mês com todos esses comandantes, analisamos os indicadores daquele mês e tomamos as medidas necessárias para combater os crimes. Mas muito tem de ser feito. Temos de avançar no combate implacável ao crime e ao tráfico.
    O candidato ao GDF, Toninho do PSOL, disse, em sabatina no JBr, que pretende desativar as UPA’s. As Unidades de Pronto Atendimento estão funcionando?
    As UPA’s estão funcionando e com uma super demanda. No ano passado, atendemos pouco mais de 500 mil pessoas. Se não tivéssemos as UPA’s, para o atendimento desses casos de baixo risco, todas esssas pessoas estariam nos prontos socorros. A UPA ajuda a organizar o sistema de saúde. Se for um caso mais grave, a própria UPA encaminha para uma unidade especializada. As UPA’s são indispensáveis. Nós recebemos aqui  grande quantidade de gente que vem de todo o Brasil. Quase metade do nosso atendimento é de pessoas de fora do DF. Se esse sistema de saúde fosse para atender só o nosso povo, teria um padrão espetacular. No ano passado, atendemos mais de 7,5 milhões de consultas. Seria o mesmo que cada cidadão do DF fosse atendido três vezes em um ano. Nem a Suíça tem um atendimento com esse padrão.
    O episódio em que o cabo da PM João Dias invadiu o Palácio do Buriti com um saco com R$ 200 mil é sempre citado por seus adversários. O que foi esse caso e por que não houve punição?
    Esse cidadão saiu de dentro do Buriti preso, por ordem do governador e foi afastado da Polícia Militar do DF. Tivemos rigor na punição.
    O senhor disse  que se orgulha por que no seu governo não houve corrupção, mas três administradores  foram presos. Como o senhor explica isso?
    Não se pode confundir atos do governo com atos individuais. Se a pessoa cometer algum erro, ela é punida rigorosamente. E foram punidos pela minha polícia e pelos órgãos de fiscalização do governo. Qualquer um que fizer, será punido rigorosamente. Esses casos mostram que é um governo que  tem uma Secretaria de Transparência, que é  exemplo,  um Portal da Transparência que não tem em nenhum estado do Brasil.  Isso ajuda a  sociedade a  ter um papel de fiscal.
    O que o senhor pretende fazer para o transporte público, especialmente no Recanto das Emas? E o Expresso Sul?
    Fizemos uma licitação de todo o transporte público e essa é uma conquista fundamental, porque os operado
    res anteriores desrespeitavam e humilhavam nossa população. Agora, estamos fazendo os ajustes das linhas, para atender a população onde tem demanda. Nós já mudamos 100% dos ônibus no Recanto das Emas e estamos fazendo dois terminais rodoviários. O Expresso DF Sul é um orgulho, é a maior obra de mobilidade urbana desse país. Agora, estamos fazendo os ajustes. Algumas linhas foram desativadas, mas estamos retomando e discutindo com a população. Vai ter uma solução para isso.
    O que o senhor pretende fazer com relação ao elevado número de moradores de rua que cometem crimes?
    Criamos o projeto Cidade Acolhedora. São 15 equipes, com participação de um egresso da população de rua, e já tiramos mais de 800 pessoas da rua, com um trabalho de convencimento. Já lotamos nossas estruturas de recuperação, em um parceria com uma instituição da Igreja Católica e estamos providenciando uma chácara para receber mulheres – já temos uma que atende homens.  Vamos persistir. Uma parte dessa população, que era de catadores, já está no Fábrica Social. Tem gente ganhando até R$ 2 mil e aprendendo uma profissão.
    Todos os candidatos que já passaram por aqui prometeram reduzir o número de secretarias, se chegarem ao Palácio do Buriti. O senhor pretende fazer algum tipo de reforma administrativa?
    Quem não tem proposta para as políticas públicas, se apega nisso. Eu reduzi quatro mil comissionados do governo anterior. Recuperei áreas essenciais para tratar, com secretarias pequenas, como a Secretaria do Meio Ambiente, que foi extinta pelo governo anterior. A Secretaria da Mulher, que é enxuta, cuida das políticas para a mulher, em tempo integral. Um exemplo disso é a carreta da mulher, que é um sucesso no País inteiro. A Secretaria da Criança nos ajudou a passar o trator no Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado), que era uma casa do terror, onde já morreram 36 jovens. Antes, era cuidado por uma secretaria que só aparecia quando tinha crise. Para mim, o que vale é se a área cuida de uma política pública e se, no custo benefício, é bom para a sociedade.
    Qual a previsão para nomeação dos aprovados no último concurso da Polícia Civil?
    Eu tomei a iniciativa de pedir ao Congresso Nacional o aumento do quadro da Polícia Civil.  Já chamamos mais de 300, tem outra convocação agora, de mais 100 e poucos, e todos  podem ter certeza que serão chamados, paulatinamente.
    Quais as expectativas para convocar um grupo de 128 nutricionistas aprovadas para a Secretaria de Saúde?
    A expectativa de convocação dos nutricionistas é boa, com a ampliação dos serviços de saúde que estamos fazendo.
    O setor produtivo tem reclamado da morosidade para concessão de alvarás. O que o governo está fazendo com relação a isso?
    A reclamação é justa. Estamos em um emaranhado de leis, com uma burocracia danada. Criei uma espécie de “Na Hora” para emissão de alvarás. Centralizei na Casa Civil uma área com todos os órgãos do governo juntos para agilizar esse processo. Eu quero mais. Já encomendei, inclusive. Quero toda essa área informatizada, até o fim do ano,  para padronização da emissão dos certificados. Eu candidatei Brasília para ser piloto de um projeto de desburocratização, por meio do Governo Federal. Nós vamos ser a unidade da Federação que, em menor tempo, vai abrir e fechar empresa, por exemplo.
    E no Setor Habitacional 26 de Setembro vai haver  derrubada? 
    Estamos fazendo uma verdadeira cruzada pela legalidade, regularizando cidades inteiras. Por isso, a importância de se aprovar a Luos (Lei Complementar de Uso e Ocupação do Solo do Distrito Federal) e o PPCUB (Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico), que estão na Câmara Legislativa. Eu não sei o estágio do 26 de Setembro, mas todas as áreas passíveis de regularização serão regularizadas.
    Como o senhor pretende tratar o grande número de licenças médicas de professores?
     Quando é curto o tempo de substituição, muitos temporários não querem. Então, além de ter o quadro recomposto, temos de ter uma reserva de quadro permanente para substituição. É uma saída caríssima, mas não podemos deixar os alunos sem aula. Em 2018, vamos colocar todas as escolas do DF em tempo integral.
    O senhor é a favor de uma região administrativa que contemple o Sol Nascente e o Pôr do Sol?
    Por enquanto não, mas é a tendência natural. É importante que a infraestrutura da Ceilândia cuide dessa área, por enquanto.
    Sua gestão foi marcada por greves e problemas no relacionamento com a PM. Como o servidor será tratado isso na próxima gestão?
    Com a mesma dedicação e diálogo que tenho feito. O respeito ao servidor foi a marca do nosso governo. Na PM, tivemos a Operação Tartaruga, mas, pelo diálogo que estávamos construindo, não tinha necessidade de sacrificar nossa população. Ali teve motivação política. Por isso, eu condenei com muita veemência e procurei resolver o problema. No meu governo, a PM teve sua maior conquista: hoje, os militares do DF voltaram a ganhar o maior salário do Brasil e conseguiram atingir o seu maior sonho, que era a equiparação salarial com a Polícia Civil

    Fonte: Da redação do Jornal de Brasília